Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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A dança é metáfora do pensamento precisamente porque indica por<br />
meio do corpo que um pensamento, na forma de sua aparição como<br />
acontecimento, é subtraído a toda preexistência do saber.<br />
[...]<br />
“A dançarina não dança” quer dizer que o que se vê não é em momento<br />
algum a realização de um saber, embora de parte esse saber seja<br />
sua matéria, ou seu apoio. A dançarina é esquecimento milagroso de<br />
todo seu saber de dançarina, ela não executa qualquer dança, é essa<br />
intensidade retida que manifesta o indecidido do gesto. Na verdade, a<br />
dançarina suprime toda dança que sabe porque dispõe de seu corpo<br />
como se ele fosse inventado. De modo que o espetáculo da dança é<br />
o corpo subtraído a todo saber de um corpo, o corpo como eclosão<br />
(BADIOU, 2002, p. 90, grifos do autor).<br />
Também Valéry, em Degas Danse Dessin, publicado em 1935, faz referência<br />
a essa mesma proposição de Mallarmé. Ele diz que seu encantamento<br />
com a dança pode partir de outro lugar, muito além da cena<br />
comum, fora do palco e fora do solo como, por exemplo, diante de<br />
uma tela onde se encontram grandes Medusas aparentemente fixas e<br />
intocáveis. Valéry abre a perspectiva da dança para além do corpo que<br />
dança, efetivamente, da mulher que dança e põe em cena todo o seu<br />
saber de bailarina, quando diz que uma das mais livres, flexíveis e voluptuosas<br />
das danças possíveis apareceu-lhe em uma tela, em que não se<br />
encontravam mulheres e não se dançava, mas em que se viam Medusas<br />
tão fluidas que pareciam representar todo ideal de mobilidade, em seus<br />
“corpos de cristal elástico” que parecem se mover em “espasmos ondulatórios”,<br />
como se estivessem no dia da grande exibição – “vira-se ao<br />
avesso e se expõe, furiosamente aberta” (VALÉRY, 2003, p. 39). O que<br />
pode nos levar ao fragmento 95 do Livro da dança, “SER PROFUNDO<br />
no dia da EXIBIÇÃO Profunda” (TAVARES, 2001, p. 115). Diz Valéry:<br />
Mallarmé disse que a bailarina não é uma mulher que dança, pois ela<br />
não é uma mulher, e não dança.<br />
[...]<br />
A mais livre, a mais flexível, a mais voluptuosa das danças possíveis<br />
apareceu-me numa tela onde se mostravam grandes Medusas: não<br />
eram mulheres e não dançavam.<br />
SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 114-147 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />
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