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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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prio movimento, mas o que conta é a legibilidade poderosa da retenção”<br />

(BADIOU, 2002, p. 82). Tanto é que, em uma passagem, Badiou<br />

recupera de Nietzsche o sentido de corpo não forçado e desconfiado<br />

como atribuição do corpo leve que dança:<br />

Podemos pensar então, adequadamente, o que se diz no tema da<br />

dança como leveza. Sim, a dança opõe-se ao espírito de peso, sim,<br />

é o que dá à terra seu novo nome, “a leve”, mas, definitivamente, o<br />

que é a leveza? Dizer que é a ausência de peso não leva longe. Deve-<br />

-se compreender por leveza a capacidade do corpo de manifestar-se<br />

como corpo não forçado, não forçado até mesmo por si próprio, ou<br />

seja, em estado de desobediência a suas próprias impulsões. [...] A<br />

leveza tem sua essência, daí ser a dança a sua melhor imagem, na<br />

capacidade de manifestar a lentidão secreta do que é rápido. [...]<br />

Nietzsche proclama que “o que a vontade deve aprender é a ser lenta<br />

e desconfiada”. Digamos que a dança pode-se definir como a expansão<br />

da lentidão e da desconfiança do corpo-pensamento (BADIOU,<br />

2002, p. 83, grifo do autor).<br />

Badiou recupera ainda algumas imagens que aparecem em Nietzsche<br />

como fulguração desse corpo que dança, esse espírito “antes de mais<br />

nada”, que é o pensamento subtraído de qualquer espírito de peso e<br />

de qualquer vulgaridade como, por exemplo, a ave, que habitaria o<br />

interior do corpo, a fonte – porque o corpo dançante seria o corpo<br />

que jorra em estado permanente, um “fora do solo” e um “fora de si<br />

mesmo” (BADIOU, 2002, p. 80) –, ou ainda a criança, o corpo leve e<br />

inocente, “o corpo antes do corpo”. Para Badiou a dança é um estado<br />

de inocência porque é um corpo de antes do corpo e que também é<br />

esquecimento, porque é um corpo que esquece o seu próprio peso,<br />

a sua prisão. O corpo é ainda um novo começo, “porque o gesto<br />

da dança deve sempre ser como se inventasse seu próprio começo”<br />

(BADIOU, 2002, p. 79-80), a sua permanente fundação. Dentro dessa<br />

mesma ideia do corpo como esquecimento e ao mesmo tempo como<br />

eterno começar de si mesmo, como se constantemente inventasse seu<br />

próprio começo, Gonçalo M. Tavares, no fragmento 86 do Livro da<br />

dança, propõe uma espécie de interdição da memória e de retorno ao<br />

corpo sem início nem fim, arremessado no instante:<br />

SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 114-147 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />

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