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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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liberdade da vontade, um despedir-se de toda crença para afirmar<br />

uma condição livre, uma espécie de “absoluta Qualidade do que não<br />

tem qualidades” (TAVARES, 2001, p. 71).<br />

Alain Badiou, por sua vez, no texto “A dança como metáfora do<br />

pensamento”, publicado no Pequeno manual de inestética, recupera,<br />

a partir de Nietzsche, esta mesma proposição – entre peso, o falso “espírito<br />

livre” como negação da vida, e corpo livre, desobediente, como<br />

desejo e afirmação da vida –, para pensar a dança como metáfora do<br />

pensamento subtraído de qualquer ideia de gravidade. Ele se pergunta:<br />

“Por que a dança ocorre a Nietzsche como metáfora obrigatória do<br />

pensamento?” E logo em seguida afirma que “a dança é o que se opõe<br />

ao grande inimigo de Zaratustra-Nietzsche, inimigo que ele designa<br />

como ‘o espírito de peso’. A dança é, antes de tudo, a imagem de<br />

um pensamento subtraído de qualquer espírito de peso” (BADIOU,<br />

2002, p. 79). O crítico português José Gil também diz que a finalidade<br />

de qualquer bailarino é vencer o peso do corpo, e que a ausência<br />

do peso, a facilidade são de tal forma vividos pelo bailarino que ao<br />

mesmo tempo em que ele parece ter a propriedade de “um móbil<br />

no espaço”, parece também experimentar essa ausência de peso no<br />

interior do próprio corpo, “como se a sua textura se tivesse tornado<br />

espaço” (GIL, 2004, p. 18). Assim, José Gil faz referência a uma leveza<br />

que é própria do movimento dançado e que o bailarino, espécie<br />

de móbil, na sua sequência de movimentos, abre no espaço infinitas<br />

possibilidades de ausência de peso ou de gravidade, infinitas nuances<br />

de leveza. O fato é que o bailarino nunca vive o peso objetivo do seu<br />

corpo, do corpo inerte e vulgar, o peso do seu “cadáver”, mas a modulação<br />

de intensidades diferentes de leveza, energias de fluxo que<br />

deixam o corpo mais ou menos leve e que são vividas pelo bailarino<br />

como virtualidades. Desse modo, “vencer o peso, tal é o fim primeiro<br />

do bailarino” (GIL, 2004, p. 19). José Gil diz que<br />

Há uma leveza própria do movimento dançado; [...] O bailarino não<br />

vive nunca o seu peso objetivo, científico, o peso do seu corpo-objeto,<br />

o seu cadáver. Avalia a sua leveza atual por comparação com outras<br />

levezas que acaba de atravessar no quadro específico de certa sequência<br />

de movimentos: cada sequência abre múltiplas possibilidades de<br />

ausência de peso, diferentes das oferecidas por outras sequências. São<br />

SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 114-147 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />

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