Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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humano no mundo agora ainda é pensar, ainda é o pensamento 7 ; e<br />
que unir literatura e pensamento não é um ato de vanguarda, mas, ao<br />
contrário, é apenas uma interessante volta às raízes. Ele lembra que na<br />
antiguidade clássica, por exemplo, poesia e filosofia andavam juntas,<br />
elas eram uma mesma coisa, depois é que se separaram, e uni-las em<br />
uma só outra vez é voltar às raízes. Já aqui, de algum modo, estabelece<br />
que lhe interessa uma concepção circular da história, anacrônica,<br />
como modo de uso, leitura e escrita do ensaio.<br />
2 A DANÇA, o ESPÍRito LivRE<br />
Segundo Nietzsche, o que o falso “espírito livre” gostaria de perseguir<br />
com todas as forças é a “universal felicidade do rebanho em pasto<br />
verde, com segurança, ausência de perigo, bem-estar e facilidade para<br />
todos” (NIETZSCHE, 1992, p. 48), bem como todo o seu desejo e projeto<br />
para a arte e para a filosofia seria apenas o silêncio, a quietude, o<br />
“mar liso” ou ainda o entorpecimento, a embriaguez como vingança<br />
sobre a vida, como ausência de resistência, embotamento dos sentidos,<br />
em oposição àqueles que “sofrem de superabundância de vida” 8 , de<br />
7 Em entrevista para o jornal Rascunho (Curitiba, 5 de janeiro de 2010), perguntado<br />
acerca do uso notório de um pensamento mais reflexivo em sua literatura,<br />
algo muito próximo da filosofia, como uma armadilha contra o senso comum,<br />
Gonçalo M. Tavares responde que: “Pensar é ainda um dos atos de resistência<br />
do ser humano. Não concebo qualquer ato humano sem o pensamento, mas<br />
é evidente que este pode se expressar de muitas formas. Na antiguidade clássica,<br />
a filosofia e a poesia estiveram juntas, eram a mesma coisa, mais tarde se<br />
separaram. Juntar as duas de novo é voltar às raízes, não é ser vanguardista.”<br />
8 Em Nietzsche contra Wagner, Nietzsche faz uma distinção entre dois tipos de<br />
“sofredores”, que resultam do movimento da arte e da filosofia como socorro e<br />
remédio da vida em crescimento ou da vida em declínio. Ele diz que existem<br />
dois tipos de sofredores, os que sofrem de superabundância de vida, que buscam<br />
uma compreensão e perspectiva trágica da vida, tendo no conhecimento<br />
trágico e na arte dionisíaca o mais belo luxo da cultura; e os que sofrem de<br />
empobrecimento de vida, que necessitariam ao máximo de brandura e paz,<br />
que se encerrariam em horizontes otimistas e seguros, pouco instáveis – são<br />
os décadents (1999, p. 59-60). Ou ainda, pode-se intuir, este pode ser o falso<br />
espírito livre, o corpo cativo, obediente e sem dança, “rapazes bonzinhos e<br />
desajeitados, a quem não se pode negar coragem nem costumes respeitáveis,<br />
mas que são cativos e ridiculamente superficiais” (NIETZSCHE, 1992, p. 48).<br />
126 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 114-147 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012