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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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limite, fim, termo, remate ou, quiçá, equação resolvida, o que se pode<br />

espaçar depois disso – e a partir do movimento da escrita e seus modos<br />

de operação crítica – é uma errância. E toda errância tem vínculo com<br />

liberdade, com espírito livre e, principalmente, com erro.<br />

Há dois fragmentos do Livro da dança que vêm da anotação do erro,<br />

como título e sugestão, e demarcam a interdição de um pressuposto de<br />

escrita. Na edição portuguesa são os fragmentos 42 e 43, na edição<br />

brasileira se chamam, respectiva e propriamente, “Erro” e “Conselho<br />

consequência da definição de erro”, mas não há alterações dentro dos<br />

textos entre uma edição e outra. É interessante observar que o procedimento<br />

desses fragmentos exemplifica, de algum modo, o princípio<br />

de um plano para a escrita que é constituir um gesto circular e repetitivo<br />

para movê-la, para fazê-la se mover inteiramente. A repetição está<br />

como uma insistência de método e, no primeiro deles, é possível notar<br />

o passeio iniciado entre o erro e o método através dela. No segundo,<br />

um conselho a modo de Zenão de Cício, o estoico (334-262 a. C., que<br />

pregava a remoção das paixões e uma aceitação resignada do destino),<br />

ou como Sêneca em suas “Cartas” 5 , em um movimento circular entre<br />

razão e paixão, mas ao mesmo tempo negando certa condição estoica<br />

ao colocar um corpo como um perseguidor de outros corpos, um<br />

corpo perseguidor de outros sentidos, o que talvez não seja possível;<br />

5 Gonçalo M. Tavares diz em uma entrevista (Entrelivros, n. 29, set. 2007) que<br />

se considera “um filho de Sêneca”, que tem “uma parte estoica”, pois “guarda<br />

alguma distância em relação ao que vai acontecendo”. Diz também que o livro<br />

que mais marcou a sua vida é o das cartas de Sêneca a Lucílio, Cartas a Lucílio,<br />

livro em que Sêneca avisa que só tem domínio de si aquele que não faz de seu<br />

corpo um peregrinador por outros corpos. Ora, o estoicismo está ligado a uma<br />

colocação do ser na razão para sobrepor-se às paixões, mesmo que, depois, se<br />

ligue também a uma clivagem entre corpo e alma em uma tentativa de fazer<br />

com que o homem suplante a dor e, principalmente, a dor da perda provocada<br />

pela morte; dor que é uma inimiga da razão. Sabe-se que Sêneca (Corduba, 4<br />

a.C. — Roma, 65 d.C.), diz Joaquim Brasil Fontes (1992, p. 15) na apresentação<br />

a uma pequena edição brasileira de Consolationes (Cartas consolatórias), falava<br />

para e contra uma sociedade aristocrática, culta e em perpétuo sobressalto,<br />

em que Nero era o imperador e se autointitulava senhor da vida e da morte.<br />

Joaquim Fontes chama atenção para o quanto Sêneca tensiona a língua latina e<br />

a filosofia estoica, em uma dupla racionalidade, a da ordem das palavras e a da<br />

ordem do mundo, com um discurso entre razão e paixão.<br />

122 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 114-147 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012

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