Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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Bernardo Soares, comezinha e lançada ao chão do moderno, como<br />
um “desassossego”, e procura incessantemente constituir uma correspondência<br />
entre algumas imagens (pelas quais pede desculpas) e essa<br />
pergunta de resposta taxativa e instantânea, mas que não diz nada:<br />
Sempre senti a matemática como uma presença<br />
Física; em relação a ela vejo-me<br />
Como alguém que não consegue<br />
Esquecer o pulso porque vestiu uma camisa demasiado Apertada<br />
nas mangas.<br />
Perdoem-me a imagem: como<br />
Num bar de putas onde se vai beber uma cerveja<br />
E provocar com a nossa indiferença o desejo<br />
Interesseiro das mulheres, a matemática é isto: um<br />
Mundo onde entro para me sentir excluído;<br />
Para perceber, no fundo, que a linguagem, em relação<br />
Aos números e aos seus cálculos, é um sistema,<br />
Ao mesmo tempo, milionário e pedinte. Escrever<br />
Não é mais inteligente que resolver uma equação;<br />
Por que optei por escrever? Não sei. Ou talvez saiba:<br />
Entre a possibilidade de acertar muito, existente<br />
Na matemática, e a possibilidade de errar muito,<br />
Que existe na escrita (errar de errância, de caminhar<br />
Mais ou menos sem meta) optei instintivamente<br />
Pela segunda. Escrevo porque perdi o mapa<br />
(TAVARES, 2005, p. 161, grifo do autor).<br />
O poema é uma proliferação deliberada de palavras e faz uso de<br />
uma circunstância da matemática como ponto de partida, porque a<br />
matemática é uma ciência que estuda objetos abstratos (entre eles os<br />
números, as figuras, as funções, as noções de ordem e tantos outros,<br />
daí uma ideia em torno das fabulações da astrologia, dos destinos,<br />
da imaginação de mundos e de universos, da constituição dos mapas<br />
etc.) e as tantas relações existentes entre esses objetos, com um<br />
procedimento sempre suspeito, o do método dedutivo. E um método<br />
que utiliza a dedução não pode ser senão um método que provoca<br />
120 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 114-147 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012