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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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treina, que ensaia. O ensaio seria aquilo que tenta “Treinar a nudez”<br />

e “Experimentar a roupa nua” (TAVARES, 2001, p. 40), diz ele. Ou<br />

seja, uma série de movimentos e de suspensão de movimentos que<br />

devem ser incorporados ao corpo do bailarino por meio de um hábito<br />

nu, de uma rotina nua de trabalho, de treino (exercitar, acostumar, ensaiar<br />

etc.), até que se saiba apenas o próprio corpo-movimento de cor,<br />

incorporado, ou seja, com o coração; e até que o corpo seja pensamento<br />

e resistência, corpo-pensamento-resistência, uma intensidade.<br />

Como sugere Alain Badiou, a partir de Nietzsche, quando fundamenta<br />

a dança como uma metáfora do pensamento, um corpo-pensamento.<br />

Segundo Badiou, ela é exatamente uma intensificação, um pensamento<br />

efetivo no lugar, e não exterior a ele, que se intensifica sobre si<br />

mesmo ou que representa o movimento de sua própria intensidade<br />

(BADIOU, 2002, p. 81). Porque a primeira maneira de ler-escrever<br />

o ensaio e a segunda maneira de ler-escrever o ensaio, ambas, têm a<br />

ver com corpo livre, desejo, estrato, afecção, modos de ser da escrita.<br />

Gonçalo M. Tavares indica em um poema intitulado “O mapa”– citado<br />

a seguir, que pertence ao “livro sete (Autobiografia)”, do livro de<br />

poemas 1, 3 publicado em 2004 –, a sua perspectiva de erro e impossibilidade<br />

de resposta à pergunta “Por que optei por escrever?” como<br />

um motor para seu modo de escrita. A resposta convulsa e imediata à<br />

pergunta é: “Não sei.” Com isso, no poema, ao advertir que a matemática<br />

é uma presença física de método, ele invade a interrogação de<br />

3 O livro de poemas 1 configura quase uma antologia de oito pequenos livros,<br />

de oito projetos aparentemente distintos. Foi publicado em Portugal em 2004<br />

(Relógio D’Água) e no Brasil, em 2005 (Bertrand Brasil). Os livros que compõem<br />

o projeto 1 estão divididos e nomeados como livro um, livro dois, livro<br />

três e assim sucessivamente até o livro oito. Os títulos dos livros, pistas de sua<br />

aparente distinção são, respectivamente, Observações, Livro dos ossos, Atenas<br />

e a metafísica, Frio no Alaska, Homenagem, Explicações científicas e outros<br />

poemas, Autobiografia e Livro das investigações claras. É de se notar que estes<br />

títulos de livros, de alguma maneira, acompanham os títulos que Gonçalo M.<br />

Tavares atribuiu a alguns poemas do Livro da dança na edição brasileira, porque<br />

perseguem a sua ideia de uma poética do movimento que é, ao mesmo tempo,<br />

uma poética de releitura da metafísica e uma tentativa de interferir nela: “Exibição”,<br />

“Sobre o osso”, “A técnica”, “Definição de função”, “Aprendizagem”,<br />

“Indicações quase gerais”, “Biografia e prestígio”, “Coração e cicatriz” etc.<br />

SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 114-147 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />

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