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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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Esse direito de expressão “que está em todo ser vivo”, ou seja, é<br />

rigorosamente universal, ganha, no contexto de luta do terceiro mundo,<br />

da periferia dependente, um sentido nada “abstrato”, mas sim<br />

politicamente concreto, localizado e operacional. Comentando a IV<br />

Bienal, Pedrosa atacava duramente o elitismo “cosmopolita” incorporado<br />

pelo poderoso diretor do Museu de Arte Moderna de Nova York,<br />

Alfred Barr Jr., que ridicularizava o esforço dos latino-americanos para<br />

incorporar (e transformar) a arte abstrata construtiva: “O intrigara até<br />

a irritação o fato de jovens daqui e da Argentina se terem entregado<br />

a experiências chamadas concretistas. Irrita-o ainda a influência que<br />

Max Bill, por exemplo, chegou a exercer por nossas paragens”. E pergunta:<br />

“Que preferia o ilustre ex-diretor do MOMA de Nova York?<br />

Que os jovens artistas brasileiros ou argentinos se deixassem influenciar<br />

mais uma vez por Picasso, Rouault, Soutine ou mesmo por algumas<br />

das glórias descobertas pelo mesmo museu, gênero Peter Blume?”<br />

(PEDROSA, 1998, p. 280).<br />

Pois nossa pintura estaria na contramão do “gosto eclético hoje<br />

dominante em Paris ou em Nova York. E não encontrando nada que afagasse<br />

seus hábitos, (Barr Jr.) desviou-se, como todo estrangeiro importante<br />

faz ao chegar às nossas plagas, na procura de tabas de índios e de<br />

revoada de papagaios”. Os estrangeiros só querem “exotismo”, “não<br />

gostam de permitir aos nossos artistas uma pesquisa, uma linguagem<br />

moderna e não ao gosto do momento nos grandes centros europeus”.<br />

Os ricos, os europeus e norte-americanos, desejam o irracional: “Têm<br />

horror, como homens cansados de cultura e de experiências estéticas,<br />

a tudo que lembre estrutura, ordem, disciplina, tensões, otimismo,<br />

beleza plástica, em suma.” Nossos artistas resistem a isso, apropriam-<br />

se da cultura “universal” e a reinventam para tomar para si seu destino.<br />

Isso era a autonomia, na visão de Mário Pedrosa, “sentimento de<br />

independência que vai se generalizando entre os melhores de nossos<br />

artistas”. Um “embrião de escola, cujas características fundamentais é<br />

cedo para tentar definir e cuja designação ainda, portanto, é difícil de<br />

dar” (1998, p. 280). Creio que isso que ele antevê será o neoconcretismo,<br />

mas é também, e ao mesmo tempo, um projeto de emancipação<br />

nacional, terceiro-mundista e, aí sim, efetivamente internacional.<br />

Em um ensaio chamado exatamente “Paradoxo da arte moderna<br />

brasileira”, já quase eufórico com as novas possibilidades de união e<br />

SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 78-113 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />

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