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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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Lembrando seus tempos de engajamento na Nova York dos anos<br />

1930, Greenberg escreveu: “Algum dia será preciso contar como o<br />

‘antistalinismo’, que começou mais ou menos como ‘trotskismo’, tornou-se<br />

arte pela arte, e desta forma abriu caminho, heroicamente,<br />

para o que viria depois” (1996, p. 235). Ora, para Mário Pedrosa, a<br />

questão dessa peculiar regressão à “arte pela arte” jamais foi colocada.<br />

Antes o contrário. Para ele o moderno era o resultado da anticultura<br />

(quer dizer, da negação da cultura burguesa acomodada, institucionalizada<br />

e rigorosamente antirrevolucionária), daí seu “primitivismo”,<br />

fundamentalmente antielitista, e da aventura da liberação experimental<br />

das formas (a aventura da abstração), promovendo um reinventar<br />

da experiência e das consciências. Isso ele chamou de autonomia,<br />

nesse sentido desdobrando os princípios fundamentais do famoso<br />

manifesto “Por uma arte revolucionária independente”, assinado por<br />

Trotski e André Breton 13 .<br />

Na crítica de Mário Pedrosa, a história (compreendida dialeticamente)<br />

assumia a dimensão decisiva, na medida em que ele sempre levava<br />

em “conta a mediação das relações de produção, de classe, as injunções<br />

do mercado, tanto quanto a maior ou menor consciência social<br />

de um povo ou de um artista na obra analisada”. Para ele, a arte antes<br />

de ser mero produto ideológico, sobredeterminado por condicionantes<br />

externos, acenava<br />

para um mundo outro, reconciliado, a lembrar uma ‘ordem cósmica’,<br />

porém recriada pelo homem. Por isso mesmo, a grande utopia<br />

de Mário Pedrosa (como ele mesmo repetiu à exaustão) era o advento de<br />

uma grande ‘arte sintética’, cujos delineamentos preliminares buscava<br />

permanente e obsessivamente desentranhar das manifestações mais<br />

autênticas da arte moderna (ARANTES in PEDROSA, 2000, p. 14).<br />

13 Diz o Manifesto: “A arte verdadeira, a que não se contenta com variações<br />

sobre modelos prontos, mas se esforça por dar uma expressão às necessidades<br />

interiores do homem e da humanidade de hoje, tem que ser revolucionária,<br />

tem que aspirar a uma reconstrução completa e radical da sociedade.<br />

(in FACIOLI, 1985, p. 37-38). Não deixa de ser sintomático desses caminhos<br />

diversos que, nos anos 1970, enquanto Pedrosa amargava seu terceiro exílio<br />

político, Greenberg usasse de sua autoridade de ex-marxista para defender a<br />

invasão norte-americana no Vietnã.<br />

SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 78-113 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />

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