Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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ele trabalha”, diz, provavelmente parodiando o Manifesto Comunista.<br />
Logo depois, se torna um pouco mais explícito, referindo-se a um<br />
novo tipo de crítica, a “crítica histórica”, que apresentou a “nossa ordem<br />
social burguesa não como uma condição ‘natural’, nem eterna,<br />
ad vida, mas simplesmente como o último termo em uma sucessão<br />
de ordens sociais”. A vanguarda nasceria daí e coincidiria com o mais<br />
“arrojado” tipo de “pensamento científico revolucionário na Europa”<br />
(GREENBERG, 1996, p. 23-24).<br />
A vanguarda política revolucionária deu a “coragem” para que o<br />
modernismo agredisse a cultura burguesa. Greenberg agradece. Agradece,<br />
mas deixa de lado. Uma vez constituída, a vanguarda abandona<br />
o barco da revolução política tanto quanto o da cultura burguesa. Sua<br />
função passaria a ser “manter a cultura em movimento”. Surge daí a<br />
“arte pela arte”, a “poesia pura”, e o “conteúdo torna-se algo a ser<br />
evitado como uma praga”. Essa é a busca do absoluto que leva à formação<br />
da arte abstrata. Um “cordão umbilical de ouro” liga vanguarda<br />
à classe dominante. Na medida em que esta estaria em via de desaparecer,<br />
ou “encolhendo”, a vanguarda também estaria em perigo. E ela<br />
precisa ser defendida, na medida em que é o último bastião da elite<br />
esclarecida que defende a “Cultura”.<br />
Como se pode notar sem muito esforço, as diferenças com Pedrosa<br />
são enormes e significativas. Em termos histórico-formais, para o crítico<br />
brasileiro a questão da bidimensionalidade modernista nunca chegou<br />
a ser a mais decisiva, ao mesmo tempo em que a presença de uma<br />
concepção de totalidade social na produção (marca marxista da qual<br />
o crítico brasileiro jamais se distanciou) não lhe permitia analisar a história<br />
da arte de um ângulo predominantemente “interno” ou “endógeno”,<br />
como o crítico norte-americano. Essas posições são suficientes<br />
para distanciar significativamente Pedrosa das posições “formalistas”<br />
(de que foi tanto e tão injustamente acusado) ou da euforia diante<br />
dos arroubos subjetivistas das correntes expressionistas abstratas (que,<br />
como se sabe, Greenberg tanto defendeu).<br />
Mas não é só isso. No caso de Greenberg, como no de Pedrosa, a<br />
origem trotskista de ambos (sobretudo no que tange à discussão da<br />
independência da arte diante do contexto específico do engajamento<br />
revolucionário) encaminhou duas leituras próximas, porém com resultados<br />
completamente diferentes.<br />
104 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 78-113 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012