Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
arte se encaminharia para a abstração (seu caminho para a liberdade),<br />
privilegiando os momentos em que se apresenta o desmantelamento<br />
progressivo do naturalismo, do “acabado dos detalhes”, da “ilusão da<br />
matéria e do absoluto da cor dos objetos”. Uma crítica, enfim, que se<br />
pautava por “uma vocação nitidamente antinaturalista, portanto tectônica<br />
e abstrata” (ARANTES in PEDROSA, 2000, p. 13).<br />
Em um de seus mais ambiciosos ensaios, “Panorama da pintura<br />
moderna”, Pedrosa concluía, em uma criteriosa análise imanente da<br />
história da arte desde o Renascimento, que o projeto moderno se realizaria<br />
com a arte abstrata: “Um programa de preparação indireta e<br />
gigantesca para remodelar, através da visão em movimento, os modos<br />
de percepção e de sentir, e para conduzir a novas maneiras de viver.”<br />
Com sua liberação das estruturas da representação, no modernismo o<br />
tempo deixa de ser a questão decisiva: “O ‘x’ da questão agora é o espaço”<br />
(PEDROSA, 2000, p. 161-164). Para o crítico, Mondrian era “o<br />
jacobino da revolução modernista”, sua “depuração final”. Ou quase.<br />
Isso porque um artista como Max Bill, que apresentou na I Bienal uma<br />
escultura que causou entre os defensores do abstracionismo no Brasil<br />
o mesmo furor que Guernica trouxe aos expressionistas neofigurativos<br />
quando de sua aparição na II Bienal, em sua Unidade tripartida, mostrava<br />
uma nova dimensão da abstração capaz de conciliar “a dinâmica<br />
e a estática, numa noção de espaço já inseparável do tempo” (p. 173).<br />
Nesse ponto, poderíamos aproximar Pedrosa de um outro grande<br />
crítico, seu contemporâneo (e o mais importante da época), Clement<br />
Greenberg, ao qual foi bastante ligado por vínculos diversos, como<br />
a militância trotskista e a formação crítica criada dentro da esquerda<br />
norte-americana. Como se sabe, Greenberg também pautou sua crítica<br />
por um prisma “abstracionista”, centrado no conceito de planaridade<br />
que justamente se realizaria na arte abstrata norte-americana. Em um<br />
de seus ensaios mais discutidos (e discutíveis), “Vanguarda e Kitsch”,<br />
publicado originalmente em 1939, Greenberg defendeu a arte de vanguarda<br />
como uma resistência ao rebaixamento da “cultura” promovida<br />
pela lógica decadente da cultura burguesa. Nesse ensaio, ele segue<br />
uma explicação histórica aparentemente parecida com a de Pedrosa:<br />
“todas as verdades envolvidas pela religião, autoridade, tradição, estilo,<br />
são postas em questão, e o escritor ou artista não pode mais prever<br />
as respostas do seu público aos símbolos e referências com os quais<br />
SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 78-113 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />
103