Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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forma “mais imbecil – a forma política” (p. 139). Pedrosa cita como o<br />
melhor exemplo do “bom” nacionalismo (quer dizer, de uma preocupação<br />
crítica com o local, com sua capacidade heurística genuína) o<br />
ensaio de Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, influência decisiva<br />
no pensamento nacional crítico de Antonio Candido e Paulo Emílio.<br />
Para Mário Pedrosa, os pensadores tocados pelas artes visuais foram os<br />
mais abertos. Os “imbecis” nacionalistas eram justamente aqueles que<br />
não tinham, e refutavam, a sensibilidade plástica.<br />
Os modernistas brasileiros cumpriram rigorosamente o caminho<br />
emancipador da arte moderna, que para Pedrosa foi “uma reação ao<br />
ideal naturalista tradicional na cultura do ocidente e a proclamação da<br />
autonomia do fenômeno artístico”, o caminho do “espírito” contra a<br />
servidão “da religião, do Estado, das Igrejas, do rei, dos príncipes, dos<br />
nobres e finalmente dos ricos”. Ao caminhar para a abstração, a arte se<br />
dirige ao Mediterrâneo e, depois, graças ao imperialismo, às culturas<br />
“primitivas” (p. 139-141). Essa foi a verdadeira função do bom nacionalismo,<br />
cujo grande representante foi Mário de Andrade, que teria<br />
nos apresentado um “Brasil direto – natural, anti-ideológico”. Dessa<br />
lição saem Tarsila, Guignard, Pancetti ou Heitor dos Prazeres. Com<br />
Mário, mas também com o Pau-Brasil de Oswald de Andrade, abriu-se<br />
a porta para o primitivismo, a conquista anticultural do modernismo<br />
europeu, agora devidamente adaptada às condições locais: “O primitivismo<br />
foi a porta pela qual os modernistas penetraram no Brasil e a<br />
sua carta de naturalização brasileira” (p. 144) 11 .<br />
Assim, “pela primeira vez, jovens pintores brasileiros saem do Brasil<br />
por conta própria e vão a Paris tomar contato direto com a pintura<br />
viva, e não com o academismo morto”. Só depois, diz ele pensando<br />
no contexto varguista, é que o modernismo se divide entre esse<br />
primitivismo vitalista e universalista e o nacionalismo “de mera expressividade<br />
anedótica e pitoresca que degenera em modismos pre-<br />
11 Notemos de passagem que na Europa o primitivismo funcionou de maneira<br />
oposta. Em 1911, Franz Marc, profundamente tocado pelos seus estudos de<br />
escultura africana e peruana, escreveu: “Devemos ser corajosos e virar as costas<br />
a quase tudo o que até agora consideramos precioso e indispensável do<br />
nosso pensamento, se quisermos escapar do esgotamento e do nosso mau<br />
gosto europeu” (COLDWATER, 1967, p. 127).<br />
SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 78-113 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />
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