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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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einventando o mundo para não perdê-lo; “liberdade” pois é justamente<br />

essa a utopia que esse fazer promete e configura.<br />

Desse modo, fica claro que para Pedrosa o potencial emancipatório<br />

da obra de arte não deriva de qualquer “atitude” ou “intenção” declarada,<br />

mas sim por exercitar a possibilidade de um fazer diferente<br />

que se consubstancia na imagem libertária de um fazer livremente.<br />

Um fazer que pode deslocar a reificação dos sujeitos e a subjetividade<br />

alienada, fazendo com que esses sujeitos renovados tomem para si seu<br />

“destino”. Mas fazer “livremente”, para a liberdade, não significa fazer<br />

qualquer coisa, porque fazer qualquer coisa é fazer exatamente aquilo<br />

que o mundo reificado ensina a fazer. Por isso nem toda forma de arte<br />

“vale” como exercício de liberdade. Daí vem a certeza do autor de<br />

que o crítico é aquele que expõe e discute critérios que não possam<br />

ser apropriados pela linearidade alienada da cultura.<br />

Aqui, creio que Pedrosa se aproxima de um princípio de Walter<br />

Benjamin, desenvolvido em “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade<br />

técnica”, segundo o qual a tarefa do teórico da arte é criar<br />

conceitos que não possam ser “de modo algum apropriáveis pelo fascismo”<br />

(1986, p. 166) 9 . O crítico não é, portanto, nem o organizador<br />

do gosto burguês ou agente do “mercado” (o que essa figura de<br />

fato foi em sua origem 10 ) nem uma espécie de pedagogo ou juiz que<br />

decide caminhos. Ele é politicamente criterioso (tendo o “exercício<br />

experimental da liberdade” como horizonte): ao mesmo tempo que<br />

antecipa ações e significados, discute o rumo dos movimentos.<br />

A concepção geral da arte em Mário Pedrosa partia de uma “sábia<br />

dosagem de improvisação e erudição” (ARANTES in PEDROSA, 2000,<br />

p. 12), duas coisas que o diferenciam da geração uspiana (que, dentro<br />

de uma tradição universitária, jamais ligaria uma coisa à outra). De<br />

fato, à formação marxista básica e clássica ele foi adicionando um<br />

contato cotidiano com a produção plástica de sua época, ao mesmo<br />

tempo em que se apropriava e confrontava com desenvoltura autores<br />

vindos da teoria da arte (Riegl, Hildebrand, Worringer, Venturi), da<br />

filosofia (Hegel, Nietzsche, Husserl), da psicanálise (Freud, Charcot) ou<br />

os teóricos da Gestalt, além de alguns críticos profissionais seus con-<br />

9 Pedrosa foi certamente um dos primeiros leitores de Benjamin no Brasil.<br />

10 Sobre o tema, ver Adorno (1986).<br />

SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 78-113 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />

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