26.04.2013 Views

Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

vindas do militante, surgiu o crítico. Entre os exílios surgiu o agitador das<br />

artes. No caso dele, como no de Paulo Emílio, o militante se fez crítico<br />

e o crítico se fez agitador cultural. A radicalidade de uma postura é emprestada<br />

à outra, resultando uma personalidade e uma atuação original<br />

na história da crítica de arte latino-americana (e não apenas nela).<br />

Mário Pedrosa e Paulo Emílio, aliás, têm trajetórias significativamente<br />

parecidas. Ambos nasceram em famílias ricas (Pedrosa no decadente<br />

mundo dos engenhos nordestinos; Paulo Emílio no ascendente<br />

mundo urbano e industrial paulistano), foram comunistas desde jovens<br />

(presos, exilados etc.), mas se politizaram mais modernamente<br />

no exterior, onde começaram a carreira de críticos (Pedrosa nos EUA,<br />

depois de namoros literários na São Paulo do final dos anos 1920;<br />

Paulo Emílio na França) com análises de ícones cosmopolitas: Käthe<br />

Kolwittz e Alexander Calder para Mário Pedrosa, Jean Vigo para Paulo<br />

Emílio. A rigor, o problema brasileiro lhes chega depois dessa experiência<br />

cosmopolita, o que nunca ocorreu com Antonio Candido.<br />

Mário Pedrosa militou diretamente no trotskismo internacional até<br />

os anos 1940 e depois continuou ligado à esquerda independente<br />

por toda a vida. Paulo Emílio namorou o trotskismo, como vimos, mas<br />

foi mais independente. Ambos se encontraram quando da fundação<br />

do Partido Socialista, também nos anos 1940, e em seu projeto de<br />

construir uma versão brasileira do socialismo (igualmente afastada do<br />

stalinismo e da social-democracia europeia). E aqui, se aproximam de<br />

Antonio Candido, um dos mentores intelectuais dessa proposta (que<br />

depois seria reativada quando da fundação do PT, partido que ambos,<br />

Pedrosa e Candido, cofundariam).<br />

Mas as diferenças são tão interessantes quanto as proximidades.<br />

Mário Pedrosa foi um militante da esquerda revolucionária que se fez<br />

crítico de arte por pensar o lugar da revolução nas condições que o<br />

século XX foi criando em suas crises sucessivas. Foi internacionalista,<br />

partindo do trotskismo, pensando o Brasil de dentro para fora (e de<br />

fora para dentro), continuando o movimento do ponto em que estagnava<br />

o nacionalismo do primeiro modernismo brasileiro. O paradoxal<br />

em sua trajetória é que ele também foi “desfazendo” a crítica (de seus<br />

antecessores, de seus contemporâneos e, no final, a dele mesmo) e a<br />

crença no papel revolucionário da arte para retomar, no final da vida, a<br />

militância política revolucionária do princípio (inclusive pelo princípio<br />

SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 78-113 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />

97

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!