Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
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de e intensidade do ensino efetivamente oferecido em cada escola<br />
infantil não permite avaliar com profundidade essa interpretação, mas<br />
a evidência obtida em países em que dados mais detalhados estão<br />
disponíveis a coloca como uma possibilidade concreta.<br />
Nos Estados Unidos, país com maior riqueza de informações sobre<br />
programas de ensino infantil, detecta-se significativa heterogeneidade<br />
nos impactos medidos. Programas com elevado conteúdo educacional,<br />
como alguns pre-kindergartens estaduais e intervenções-modelo<br />
(Perry, Abecedarian, CPC), causam sensível melhora, tanto cognitiva<br />
quanto não cognitiva, ao passo que crianças enviadas a daycare centers<br />
e instituições onde a criança é pouco estimulada não raro apresentam<br />
desenvolvimento inferior às criadas em tempo integral pelos<br />
pais e parentes. Heterogeneidade importante também é verificada<br />
com respeito à duração dos impactos medidos. Apesar de ser isto,<br />
ainda, objeto de intenso debate, a maioria dos resultados sugere que<br />
grande parte da durabilidade está associada à persistência da exposição<br />
da criança ao tratamento. Os benefícios de uma boa escola tendem<br />
a desaparecer com o tempo se em níveis subsequentes a criança<br />
for matriculada em escola de qualidade inferior, fazendo com que<br />
programas com maior duração ou seguidos de outros programas de<br />
qualidade aceitável apresentem com maior probabilidade resultados<br />
positivos a longo prazo.<br />
No Brasil, algumas estatísticas descritivas apontam em direção parecida.<br />
Em primeiro lugar, vimos que entre crianças com mães pouco<br />
educadas, as que frequentaram creches têm desempenho educacional<br />
inferior às que não frequentaram, ao passo que entre os filhos de mães<br />
mais escolarizadas acontece o oposto. Como a maioria das estimativas<br />
do impacto de um tipo específico de ensino infantil disponível mostra<br />
que, ceteris paribus, são as crianças de famílias mais vulneráveis as que<br />
mais se beneficiam, o resultado acima sugere que as crianças estão<br />
de fato recebendo tratamentos distintos. Em segundo lugar, quando<br />
selecionamos apenas as famílias que reportaram que a razão para que<br />
seus filhos não estejam matriculados na creche não é insuficiência de<br />
recursos (quer porque disponham de recursos próprios, quer porque<br />
tenham acesso a vagas em creches gratuitas), observamos que a frequência<br />
com que os pais respondem que simplesmente não querem<br />
matricular a criança é decrescente com a renda familiar per capita.<br />
SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 38-85 | MAIO > AGOSTO 2011<br />
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