Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
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zadas nas creches e pre-kindergartens per si. De todo modo, se as características<br />
do sistema educacional forçarem a mudança de ambiente<br />
na passagem da creche para a pré-escola, este deve ser um revés a<br />
mais a ser computado. No estudo, os impactos de creches (daycare<br />
centers e pre-kindergarten centers) não desaparecem ao longo dos<br />
dois primeiros anos do ensino fundamental, ao contrário dos impactos<br />
sobre notas de matemática e linguagem. Duncan et al. (2004), contudo,<br />
ressaltam que tais impactos não cognitivos adversos não afetam o<br />
desempenho escolar das crianças ao longo do ensino básico.<br />
Outros estudos que utilizam intervenções aleatorizadas e acompanham<br />
os indivíduos até a vida adulta 17 mostram conclusões bastante<br />
distintas a respeito de efeitos não cognitivos de programas de ensino<br />
infantil (tais como o High Scope/Perry Program, Carolina Abecedarian<br />
e Chicago CPC). Nesses estudos, é documentado que as crianças<br />
beneficiárias apresentaram indicadores de criminalidade substancialmente<br />
menores que os não beneficiários, bem como casamentos mais<br />
estáveis e menor probabilidade de gravidez precoce. Essas medidas<br />
diferem das anteriores porque: a) nesses programas (de elevado conteúdo<br />
educacional e atenção individualizada às crianças) não houve<br />
mudança de escola; b) a estratégia de identificação do efeito envolve<br />
um experimento aleatório; c) as medidas de impacto não cognitivo<br />
foram realizadas já na idade adulta. A mensagem principal é a de que<br />
o ensino infantil pode ter efeitos importantes e duradouros sobre dimensões<br />
não cognitivas do desenvolvimento, que podem inclusive superar<br />
os impactos cognitivos em termos de suas consequências sobre<br />
bem-estar futuro (CUNHA et al., 2006). Avaliações de custo-benefício<br />
de programas de ensino infantil estão, portanto, incompletas se não<br />
considerarem eventuais benefícios e danos causados pelos mesmos.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES POLÍTICAS<br />
O QUE TEMOS<br />
Há, grosso modo, três maneiras de interpretar a inexistência de indícios<br />
de que creches tenham impactos sobre resultados futuros dos indi-<br />
17 Heckman (2008), Doyle et al. (2007) e Barnett (2008) resumem evidências<br />
sobre essas intervenções.<br />
SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 38-85 | MAIO > AGOSTO 2011<br />
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