Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
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Os dados do Saeb e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios<br />
(PNAD) trazem informações adicionais que podem confirmar<br />
que, no Brasil, as creches que os filhos das famílias abastadas frequentam<br />
podem ter impacto bastante distinto das disponíveis às<br />
famílias vulneráveis. Voltando à Tabela 1, percebe-se que há grande<br />
desigualdade na proporção de crianças de 0 a 3 anos matriculadas<br />
em creches, refletindo o fato de que os ricos têm maior probabilidade<br />
de ter seus filhos matriculados do que os pobres 15 . A desigualdade<br />
cai drasticamente quando o indicador de acesso a creches<br />
considera sem acesso somente casos em que os pais gostariam de<br />
inscrever seus filhos, mas não o fizeram por falta de recursos ou<br />
de oferta de creches. Consequentemente, pode-se deduzir que a<br />
maior parte da desigualdade de matrícula resulta do fato de que<br />
famílias pobres voluntariamente decidem não matricular seus filhos<br />
em creches, mesmo quando essa decisão não envolve gastos diretos.<br />
Se o custo deixa de ser empecilho para diferentes famílias, podemos<br />
inferir que diferenças sistemáticas nas decisões de matrícula<br />
devem estar associadas a diferenças nos benefícios, ou seja, no fato<br />
de que as creches a que as famílias pobres têm acesso são relativamente<br />
piores do que as das famílias ricas.<br />
A Figura 8, extraída do mesmo estudo, acrescenta dados a essa suspeita<br />
ao verificar que justamente entre as famílias mais pobres aumenta<br />
a proporção de crianças não matriculadas em creches, sendo razão<br />
para a não inscrição a decisão voluntaria dos pais 16 .<br />
15 Em gráficos complementares, os autores verificam que a proporção de<br />
crianças matriculadas nessa faixa etária cresce com a renda familiar per<br />
capita.<br />
16 Essa explicação é ainda coerente com resultados obtidos por Jacob e<br />
Lefgren (2005). Investigando a importância que dois tipos de informação<br />
transmitidos pelos diretores aos pais na hora de tomarem a decisão de em<br />
que escola infantil matricular seus filhos, os autores concluem que as famílias<br />
mais pobres são as que dão mais peso à resposta “os professores são<br />
comprometidos com a melhora de resultados cognitivos dos alunos”, ao<br />
passo que as mais ricas valorizam mais o fato de os alunos estarem satisfeitos<br />
com a escola.<br />
SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 38-85 | MAIO > AGOSTO 2011<br />
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