Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
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são não observacionalmente distintos dos não egressos é aquela em<br />
que os pais, acreditando ser a creche boa para seus filhos, mas sem ter<br />
condições de matriculá-los todos, escolhe os mais atrasados em termos<br />
de desenvolvimento como forma de reduzir as diferenças entre irmãos<br />
(comportamento compensatório). De modo inverso, também é possível<br />
que sejam os mais desenvolvidos os escolhidos, sob o argumento<br />
de que podem aproveitar melhor os estímulos oferecidos pelas instituições<br />
educacionais (comportamento complementar). Bernal (2001)<br />
conclui, por meio de estimativa estrutural das decisões simultâneas<br />
das mães de trabalhar e utilizar diferentes formas de deixar seus filhos<br />
sob cuidados de terceiros (seja em daycare centers, pre-kindergartens<br />
ou com adultos), que: a) crianças que ficam a maior parte do tempo<br />
nas creches têm desenvolvimento inferior aos criados pelas mães; b)<br />
crianças com melhores índices de desenvolvimento são as que mais<br />
sofrem com a falta de contato com as mães e as que mais perdem com<br />
o fato de serem inscritas em creches.<br />
O segundo conjunto de variáveis refere-se a características do ambiente<br />
familiar em que a criança é criada. É razoável supor que um<br />
mesmo tratamento, no caso a frequência a alguma instituição de ensino<br />
infantil, tenha efeitos diferentes sobre indivíduos vindos de famílias<br />
diferentes. Para uma criança que vive em domicílio desestruturado,<br />
onde os adultos presentes não oferecem estímulos mínimos para que<br />
se desenvolva, passar boa parte de seu tempo na escola (em detrimento<br />
de passá-lo com a família) produz possivelmente um efeito maior<br />
sobre o desenvolvimento infantil do que em uma criança criada em<br />
família estruturada, para a qual cada hora despendida na escola pode<br />
significar uma hora a menos de convívio com os pais e familiares. Por<br />
outro lado, é possível também que uma mesma hora gasta na escola<br />
seja aproveitada de modo mais intenso por crianças que vivem em<br />
famílias mais estruturadas (se os estímulos recebidos na escola e no lar<br />
forem complementares). Em ambos os casos, crianças que vivem em<br />
famílias diferentes poderiam ser beneficiadas de modo distinto por<br />
um mesmo tratamento. Por esses motivos, a simples comparação de<br />
resultados futuros de crianças que frequentaram e crianças que não<br />
frequentaram ensino infantil pode não resultar em boa estimativa do<br />
impacto causal desse tipo de intervenção, ou do provável resultado<br />
que teriam os não tratados caso tivessem frequentado o ensino infantil.<br />
58 SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 38-85 | MAIO > AGOSTO 2011