Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
INTRODUÇÃO 1<br />
A atenção à primeira infância vem ocupando espaço crescente nas<br />
agendas de pesquisa e formulação de políticas públicas em todo o<br />
mundo nestes primeiros anos do milênio. Por um lado, há farta evidência<br />
de que crianças que nesse período são corretamente estimuladas<br />
aproveitam melhor o conteúdo ensinado ao longo do ciclo educacional<br />
(CUNHA et al., 2006). Por outro lado, há evidência igualmente<br />
abundante de que déficits cognitivos que eventualmente surjam nessa<br />
fase são dificilmente compensados em idades mais avançadas, por<br />
mais que haja investimento das famílias e do governo. A primeira infância<br />
é uma faixa etária crítica em termos de aprendizado, e a insuficiência<br />
de estímulos tem como provável consequência futura um<br />
menor acúmulo de capital humano por parte dos trabalhadores do<br />
país, com prejuízo para nossa capacidade de crescimento. Além disso,<br />
a desigualdade de estímulos tende a produzir desigualdade educacional<br />
e de rendimentos futuros.<br />
Do ponto de vista dos governantes, tais conclusões sugerem que o<br />
fomento ao desenvolvimento infantil deveria estar entre as prioridades<br />
de política social. A grande dificuldade é que nessa idade as crianças<br />
estão predominantemente sob cuidados dos pais, ficando relativamente<br />
pouco expostas aos potenciais benefícios de políticas públicas.<br />
Dentre as relativamente poucas alternativas de ações voltadas ao<br />
desenvolvimento infantil, a oferta de educação infantil em creches e<br />
pré-escolas tem sido uma das principais apostas do Estado nas diversas<br />
partes do mundo.<br />
Os dados brasileiros mostram que, de fato, crianças que passaram<br />
pela pré-escola apresentam desempenho significativamente<br />
superior em várias dimensões de desenvolvimento e bem-estar se<br />
comparadas às que não tiveram essa experiência, mas existe pouca<br />
evidência de que a frequência escolar em idades menores (creches 2 )<br />
tenha algum impacto. Exemplos dessa evidência estão em Barros<br />
1 Agradeço os imprescindíveis comentários de Márcia Gil, Sheila Najberg e de<br />
um parecerista anônimo.<br />
2 A educação infantil no Brasil é dividida em creches (0 a 3 anos de idade) e<br />
pré-escola (4 e 5 anos).<br />
40 SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 38-85 | MAIO > AGOSTO 2011