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Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc

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sedentário, o que apontaria menos para uma constatação de cunho<br />

estritamente científico, e mais para uma estratégia moralizante, que<br />

visa a rotular, culpabilizar e normalizar sujeitos.<br />

No âmbito escolar, as práticas corporais parecem estar sob o domínio<br />

da educação. É essa disciplina que é a responsável por operacionalizar<br />

aquelas práticas com fins, por assim dizer, educacionais.<br />

Nesse sentido, a relação entre elas formaria um dispositivo biopolítico-<br />

-pedagógico, uma estratégia biopolítica de controle da vida a partir<br />

de uma prática pedagógica. Como um dispositivo, tem uma função<br />

histórico-estratégica de responder a uma urgência, sendo capaz de se<br />

remodelar permanentemente a fim de se adaptar à próxima demanda.<br />

Ademais, está inserido em um jogo de poder, sempre ligado também<br />

a uma ou mais configurações de saber que nascem dele, mas que,<br />

por outro lado, são sua condição de emergência. Ou seja, o dispositivo<br />

biopolítico-pedagógico articula um conjunto de saberes, atuando<br />

como uma força nas relações de poder que visam a formar o humano,<br />

orientar sua vida, gerir seu comportamento.<br />

Em relação ao dispositivo formado pela educação física e suas práticas,<br />

como a ginástica, cabe apontar que ela se organizou e organiza<br />

fundamentalmente em torno do campo de saberes biomédicos, criando<br />

uma espécie de casamento (im)perfeito (BRACHT, 2003). A fisiologia,<br />

a biomecânica, a bioquímica etc. são alguns dos pilares mais firmes<br />

da educação física. Segundo Bracht, as biociências do esporte, ao<br />

mesmo tempo em que trouxeram legitimidade social, acarretaram um<br />

comprometimento pedagógico da educação física. O casamento com<br />

os esportes e as biociências vem legitimando social e academicamente<br />

a educação física como um campo de saberes e práticas, mas expropria,<br />

em certa medida, sua autonomia pedagógica. Esse é um ponto<br />

bastante relevante, porque um dos mais caros subsídios legitimadores<br />

das práticas corporais é justamente uma suposta promoção da noção<br />

marcadamente biomédica de saúde. Isso vem criando uma relação de<br />

dependência da educação física em relação aos saberes biomédicos,<br />

uma vez que são eles que, via de regra, vêm ratificando ou não a eficácia<br />

das práticas corporais, dando-lhes ou tirando-lhes legitimidade.<br />

Contudo, tal relação de causa-efeito entre atividade física e saúde,<br />

como argumenta Palma (2000), sequer se sustentaria na prática. Embora<br />

fortemente questionável, tal correlação de causalidade serviu e<br />

SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 142-161 | MAIO > AGOSTO 2011<br />

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