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Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc

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Afinal, isolar, individualizar, fixar (em um domicílio, por exemplo), esquadrinhar,<br />

dividir, inspecionar, controlar, registrar etc. são ações ligadas<br />

a práticas que visam a promover um minucioso controle social, pautado<br />

sobretudo na previdência, diretamente ligadas ao saber médico.<br />

Tal procedimento de gestão de populações de humanos é nomeado<br />

por Foucault como medicalização. Por esse conceito se entende um<br />

complexo, indefinido e contínuo processo de normalização biopolítica,<br />

que envolve uma série de práticas, cujos fundamentos estão nos<br />

procedimentos médicos, que têm uma função política de regular condutas,<br />

comportamentos, a vida biológica, incluindo os corpos, para<br />

além do registro das enfermidades. A saúde estava diretamente relacionada<br />

à noção de bem-estar da população, constituindo, em bloco,<br />

saúde-bem-estar, um dos objetivos essenciais do poder político, uma<br />

espécie de imperativo da saúde (FOUCAULT, 2007).<br />

Foucault faz uma análise a partir de uma genealogia da medicina<br />

social. Na sua pesquisa sobre a política de saúde no século XVIII, por<br />

exemplo, destaca as mudanças que implicaram uma nova noso-política,<br />

ou seja, uma nova “política das doenças”, que não deve ser<br />

entendida como uma intervenção do Estado na prática médica de<br />

cima pra baixo e/ou uniforme. De acordo com o filósofo, houve um<br />

deslocamento progressivo dos procedimentos mistos e polivalentes<br />

de assistência à saúde. O objetivo era operar um esquadrinhamento<br />

mais rigoroso das populações. Por um lado, houve a separação entre<br />

pobreza e doença; por outro, estabeleceu-se um novo quadro de distinções,<br />

de diferenciações categoriais e/ou funcionais, no qual a figura<br />

do pobre é substituída pela dos bons ou maus pobres, dos ociosos<br />

voluntários e dos desempregados involuntários etc. Em vez da pobreza,<br />

o que emerge como um problema ou uma categoria é a ociosidade.<br />

Preocupando-se com suas condições e seus efeitos, a nova<br />

noso-política visa basicamente à produtividade, ainda que se guarde<br />

uma estreita relação com a pobreza. Quer dizer, pretendia-se, por um<br />

lado, primordialmente, tornar a pobreza útil, fixando-a nos aparelhos<br />

de produção com um mínimo de vida saudável, isto é, uma vida que<br />

tornasse os indivíduos capazes de produzir; ou, por outro, aliviar ao<br />

máximo o peso dos pobres para o resto da sociedade.<br />

Essas novas regras, que são fruto da problematização da noso-política<br />

ocorrida naquele século, traduzem a organização progressiva da grande<br />

SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 142-161 | MAIO > AGOSTO 2011<br />

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