Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
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considerando-se todas as condições que podem fazê-los variar. Esses<br />
fenômenos e condições são inseridos num regime de governo que<br />
une política e economia (FOUCAULT, 2007), uma gestão calculadora,<br />
que pretende oferecer o melhor modo de governar aquela entidade<br />
biológica definida como população, por meio de controles reguladores<br />
variados, normalizadores, que respeitam a lógica dos dispositivos de<br />
segurança.<br />
A lógica operatória dos dispositivos de segurança é descrita por<br />
Foucault (2008b) a partir da análise da intersecção entre caso-risco-<br />
-perigo-crise, própria das técnicas profiláticas de vacinação, tal como<br />
ele aborda utilizando os procedimentos atinentes à variolização na<br />
passagem do século XVIII para o XIX. Com base em seus mecanismos<br />
preventivos, analisa como um problema se distribui numa sociedade,<br />
que risco oferece para as pessoas, qual o perigo objetivo para cada<br />
indivíduo e como gerir uma situação na qual os meios tradicionais não<br />
dão conta, quer dizer, como gerir a crise. Tal regime político está associado<br />
a um campo específico de saber, qual seja, a medicina.<br />
O poder político da medicina “consiste em distribuir os indivíduos<br />
uns ao lado dos outros, isolá-los, individualizá-los, vigiá-los, um a um,<br />
constatar o estado de saúde de cada um, ver se está vivo ou morto e<br />
fixar, assim, a sociedade em um espaço” (FOUCAULT, 2008b, p. 89).<br />
Esse trecho indica que uma série de elementos ligados aos mecanismos<br />
médicos extravasou para o controle social urbano num sentido<br />
ampliado, indiciando o fato de a medicina, entendida como técnica<br />
geral de saúde, ter assumido um lugar cada vez mais importante na<br />
maquinaria de poder a partir do século XVIII. Consoante à interpretação<br />
foucaultiana da modernidade, nesse século nasce um tipo de<br />
poder que está relacionado a um saber médico-administrativo<br />
acerca da sociedade, de sua saúde e suas doenças, de sua condição<br />
de vida, de sua habitação e de seus hábitos (...), uma ascendência<br />
político-médica sobre uma população que se enquadra como uma<br />
série de prescrições que dizem respeito não só à doença mas às formas<br />
gerais da existência e do comportamento (a alimentação e a bebida, a<br />
sexualidade e a fecundidade, a maneira de se vestir, a disposição ideal<br />
do habitat (FOUCAULT, 2008b, p. 202).<br />
148 SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 142-161 | MAIO > AGOSTO 2011