Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
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aspectos. Os campos da moralidade e da formação do caráter são<br />
alguns exemplos.<br />
Com o apoio analítico-conceitual da noção foucaultiana de governamentalidade,<br />
especialmente o polo biopolítico, busco, na primeira<br />
parte deste artigo, fazer uma breve cartografia da lógica operatória<br />
na qual a ginástica está inserida, concebida como um dispositivo biopolítico-pedagógico<br />
de gestão da vida. Dessa etapa analítica, depreendo<br />
que Azevedo conjugou, com a ginástica, saberes biocientíficos,<br />
intentos biopolíticos de regeneração étnico-racial e formação moral,<br />
investindo biopoliticamente sobre a população brasileira. Esses apontamentos<br />
serviram de base para analisar a articulação entre elementos<br />
do movimento higienista e a ginástica escolar no pensamento de<br />
Fernando de Azevedo. Cumpre ressaltar que, a partir do século XIX,<br />
viu-se uma crescente influência dos movimentos higienistas no Brasil.<br />
Com eles, a escola passou a exercer uma função indispensável na<br />
prática e formação de hábitos e condutas, na promoção de hábitos<br />
saudáveis.<br />
O foco analítico foi o texto “A poesia do corpo ou a gymnastica escolar:<br />
sua história e seu valor” (1915), no qual a ginástica é denominada<br />
de médico-pedagogia. Secundariamente, outrossim, considero<br />
os textos “Da educação physica: o que ella é, o que tem sido, o que<br />
deveria ser” (1920) e “O problema da regeneração” (1933). Com<br />
eles, foi possível compreender como a ginástica, associada à educação<br />
física, é valorizada como prática escolar capaz de regenerar o<br />
povo brasileiro de um modo radical, a saber, alterando a sua constituição<br />
étnico-racial. As conclusões sugerem que Azevedo, integrando<br />
a noção de governamentalidade biopolítica, reputa à ginástica<br />
um papel fundamental num conjunto de tecnologias que visavam à<br />
prevenção e promoção de dada noção de vida saudável ou higiênica<br />
(biológica), mas, sobretudo, à regeneração de uma população<br />
tida como étnico-racialmente deficiente, prescrevendo uma noção<br />
de vida boa e correta (ético-política), sem a qual a nação brasileira<br />
não progrediria.<br />
SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 142-161 | MAIO > AGOSTO 2011<br />
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