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Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc

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cabe a cada um descobrir e experimentar novas possibilidades de<br />

movimento.<br />

Não se nota no trabalho do Projeto II nenhuma ênfase na questão<br />

da etnia, de resgate de uma cultura africana ou de qualquer proposta<br />

para uma “arte engajada”; todo o processo segue um viés fundamentalmente<br />

artístico. Existe um apagamento da condição social dos<br />

bailarinos, uma vez que isso não é o elemento gerador da criação<br />

na dança.<br />

Em uma leitura tradicional, isso poderia assumir ares de alienação,<br />

porém, dentro de uma perspectiva artística, ocorre um alargamento<br />

de possibilidades, que descolam o indivíduo de suas marcas mais<br />

óbvias. Os bailarinos não são vistos apenas pela sua forma de inserção<br />

social, e sim pela sua capacidade de fantasiar e de criar.<br />

Afinal, não é a arte o mais alto poder do falso, a magnificação do<br />

erro e a santificação da mentira? Relembrando Nietzsche (1996), o<br />

poder do falso deve ser elevado até uma vontade de enganar, vontade<br />

artística, que é a única capaz de rivalizar com o ideal ascético. Para<br />

o autor, os artistas são os inventores de novas possibilidades de vida.<br />

Os aspectos essencialmente lúdicos e estéticos vistos nas aulas forneceram<br />

novas pistas para a pesquisadora sobre um tema recorrente<br />

em pesquisas sobre marginalidade: o papel da casa e da rua no<br />

imaginário dos jovens moradores de comunidades de baixa renda.<br />

As matérias jornalísticas contrapõem esses papéis: a rua representa<br />

a perdição e a casa, a proteção. Nas falas dos alunos outros sentidos<br />

emergiram: “Antigamente eu era muito parado, fui para a Vila Olímpica<br />

para fazer alguma coisa” ou, “Antes eu não me ocupava com<br />

nada. Eu fui para a Vila Olímpica e gostei, antes não tinha nada para<br />

fazer” ou ainda, “Agora eu fico mais em casa, antes ficava largado<br />

na praça, não tinha nada para fazer, mas pelo menos não fazia nada<br />

com outras pessoas, em casa ficava sozinho”. A casa e a rua entram<br />

na mesma rede de sentidos, significam o não ter o que fazer, o vazio<br />

de sentidos. A rua muitas vezes não é opção de experiências que pudessem<br />

trazer algum significado para esses jovens. O projeto social,<br />

então, cria uma rede de sentidos que norteia as práticas cotidianas<br />

dos bailarinos.<br />

SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 108-141 | MAIO > AGOSTO 2011<br />

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