Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
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4.2 AS AULAS<br />
Todo o caos e a beleza da existência estavam ali presentes. Era a arte<br />
pela arte, onde uma estética nova e revolucionária surgia. Não havia<br />
amarras quanto a resgates étnicos ou ideologias de direita ou de esquerda.<br />
Era uma estética que abria para o novo, que revolucionava.<br />
Diário de campo (23 de março de 2003)<br />
A aula de balé clássico é dada pelo idealizador, coreógrafo e bailarino<br />
da companhia nos moldes tradicionais, com a utilização de uma<br />
técnica predominantemente europeia. O professor explicava o movimento,<br />
tentando traduzir para os alunos o espírito e o significado<br />
de um gestual inspirado numa estética das cortes francesas do século<br />
XVIII: “Gente, esse movimento de braço (reverência) é uma saudação,<br />
um cumprimento que os nobres faziam entre si nos palácios, durante<br />
as festas e encontros, vocês têm que vivenciar esses personagens”.<br />
O balé clássico está maciçamente presente nas escolas de dança,<br />
mas em geral ele é dado de forma mecânica, funcional, como uma<br />
técnica fundamental de preparação corporal para a dança, havendo<br />
um ofuscamento de seu conteúdo lúdico e simbólico. Esse professor,<br />
talvez por sua passagem pelas companhias de dança europeias, permitiu<br />
que a fantasia se infiltrasse naquela coreografia.<br />
Por mais distante que essa realidade branca, nobre e europeia possa<br />
estar desses bailarinos, ela se atualiza, resgatando o imaginário ocidental<br />
dos contos de fadas, das princesas, dos reis e rainhas. No momento<br />
da dança, a imaginação toma conta e a fantasia se apropria dos corpos<br />
dos bailarinos, inaugurando a dimensão do lúdico; qualquer menina<br />
pode ser Cinderela e qualquer menino, um príncipe valente. Costa<br />
(1999) revela que a experiência corporal lúdica abre espaço para uma<br />
transformação simbólica, permite um desprender-se do cotidiano,<br />
para depois reencontrá-lo transmutado, renovado.<br />
Num pequeno intervalo entre as aulas, em conversas informais, o divertimento<br />
já tomava conta dos discursos daqueles alunos: “Essa aula<br />
é muito divertida, eu adoro dançar” e mais, “gente, estou morta e<br />
nossos pais acham que a gente não faz nada, só se diverte dançando”.<br />
Ao investigar a segunda fala, um dado novo emergiu: há uma cumplicidade<br />
e os pais desejam que os filhos participem de um projeto social<br />
SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 108-141 | MAIO > AGOSTO 2011<br />
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