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Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc

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novos códigos a serem compartilhados. No caso, é a tribo dos atores/<br />

bailarinos negros e pardos.<br />

A dança que eles dançam também possui características particulares.<br />

Ao mesmo tempo em que uma técnica acadêmica, como o balé<br />

clássico, é ensinada e aprimorada diariamente, existe a valorização do<br />

que lhes é singular, as origens, os movimentos corporais, o tipo físico, a<br />

musicalidade e a experiência de vida. “Utilizo os elementos da favela<br />

como material cênico. Em vez de esconder, trago para a cena o lixo, os<br />

cobertores, o funk, a violência urbana, o preconceito, as brincadeiras,<br />

as gírias”, diz a coreógrafa, que enfatiza sua posição de artista, e não<br />

de assistente social. “Minha motivação é artística, tudo o que vejo é<br />

levado para o palco”.<br />

A fala da coreógrafa, de certa forma, vai de encontro às falas atribuídas<br />

às coreógrafas do discurso jornalístico. Se nos jornais elas aparecem<br />

sob o véu do discurso religioso de salvação e caridade, dispostas<br />

a se sacrificarem para ajudar crianças a fugirem do inferno, no caso<br />

representado pela polissemia da rua, o desejo da coreógrafa do Projeto<br />

I de levar a dança para as comunidades carentes está norteado por<br />

questões artísticas.<br />

A representação dos alunos também se transforma. Se para os jornais<br />

eles são vistos como desvalidos, excluídos, marginais ou mendigos,<br />

para a coreógrafa do Projeto I, eles são alunos de uma escola de<br />

arte, que se preparam para desenvolver novas formas de dançar e de<br />

se relacionar com o mundo.<br />

Isso não quer dizer que seu discurso não tenha também um forte<br />

conteúdo ideológico: “Gosto de levar ao palco as coisas que me indignam,<br />

para ver se os próprios alunos e o público são profundamente<br />

afetados, por terem que ver o que geralmente todo mundo tenta esconder”.<br />

A arte, para a coreógrafa, em alguns momentos, passa pelo<br />

viés de conscientização e transformação social, como se a arte servisse<br />

para afastar qualquer tipo de pensamento ingênuo e livrar os indivíduos<br />

da “alienação” em que eles vivem. Ela, inclusive, se utiliza da<br />

expressão guerrilha cultural para denominar esse tipo de ação. Será<br />

que esse é o papel da arte?<br />

Este pode até ser um desdobramento da arte: sensibilizar as pessoas<br />

para questões referentes às injustiças sociais, mas não pode ser<br />

sua essência. E, se esse for um desdobramento, por que ser mostra-<br />

128 SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 108-141 | MAIO > AGOSTO 2011

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