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Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc

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é o tempo vivido. O baile funk está na dimensão da festa, por isso seu<br />

caráter efêmero e subversivo. A festa traz à tona tudo o que é combatido,<br />

como a desordem, o esbanjamento, a diversão e o vício e, entre<br />

outras coisas, abre as percepções, anima os sentidos, enfim, propõe<br />

experiências humanas que não se esgotam na racionalidade produtiva<br />

10 . “A festa é excesso em todos os sentidos, para não fazer sentido<br />

algum” (VIANNA, 1997, p. 108).<br />

3.6 SER ARTISTA<br />

Comecei a circular. Observei que os alunos eram em sua maioria negros<br />

e pardos. Todos se vestiam de forma artística, era uma faixa colorida<br />

na cabeça, os cabelos de trancinha, dreads, roupas soltas. Em<br />

momento nenhum pareciam querer copiar algum modelo do asfalto,<br />

possuíam uma estética própria, sempre procurando um resgate da cultura<br />

negra. Pareciam misturar um estilo artístico com uma valorização<br />

da cultura negra.<br />

Diário de campo (20 de março de 2003)<br />

Ser artista não reside em reproduzir modelos do asfalto. Embora<br />

atualmente o grupo se apresente em diversos locais e seja coreografado<br />

por bailarinos do asfalto e do exterior, a arte está em buscar novas<br />

formas de expressão levando-se em conta toda a sua história.<br />

Isso pode ser facilmente observado na estética incorporada pelos<br />

alunos no cotidiano. Os cabelos nunca são alisados, ao contrário,<br />

usam elementos que destacam suas características étnicas, como black<br />

power, trancinhas, dreadlocks, permanente afro, cordinha, sem<br />

contar as faixas e os lenços utilizados nos penteados, havendo alguns<br />

alunos que se especializaram em produzir as barbas e cabelos dos<br />

colegas. As roupas, por sua vez, realçam as linhas e as curvas dos<br />

corpos, em oposição ao estilo predominante no vestuário da dança,<br />

que busca destacar um biótipo longilíneo. De acordo com Maffesoli<br />

(1987), quando uma tribo começa a existir, seus componentes deixam<br />

de ser massa e singularizam-se em um grupo específico, com<br />

10 Para entender a complexidade das relações entre a festa e a sociedade<br />

moderna, conferir Duvignaud (1982).<br />

SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 108-141 | MAIO > AGOSTO 2011<br />

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