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Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc

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os bailes funk da minha comunidade e de outros lugares, mas agora,<br />

quando você começa a entender de música e dança, não tem mais<br />

saco de ir a esses lugares...”<br />

Todo processo de ensino da arte certamente transforma os indivíduos<br />

em sua capacidade de sentir o mundo, uma vez que os bailarinos<br />

desenvolvem outros gostos, novos vocabulários e outros modos de<br />

fruir a arte. Entretanto, o baile funk está na ordem do lazer, do divertimento<br />

e da festa, ele não pode ser visto como o Outro do Projeto,<br />

não pode ser substituído por algo que esteja na dimensão da ordem,<br />

e sim por novas formas de ludicidade, expressividade, sensualidade e,<br />

principalmente, desmedida. Por que, então, ele deve ser enfaticamente<br />

negado? Frequentar os bailes assume um estatuto de transgressão<br />

social, étnica e moral, além de figurar na lista dos pecados a serem<br />

evitados.<br />

Vianna (1997) aponta para algumas pistas referentes a essa questão.<br />

Em primeiro lugar, as ideias de conscientização negra, que originalmente<br />

circulavam no mundo funk durante o tempo da Banda Black<br />

Rio e se tornaram emblemáticas pelas músicas de James Brown 9 , não<br />

estão mais presentes, ou seja, não há qualquer tipo de proposta política<br />

que envolva a questão da etnia, da superação do racismo ou<br />

do resgate do orgulho de ser negro no movimento funk. Outro ponto<br />

importante, segundo o autor, é que muitas vezes as roupas e gírias usadas<br />

nos bailes são parte integrante do estilo de vida dos traficantes e<br />

ladrões cariocas. Afirmar que todos os bandidos da cidade frequentam<br />

o mundo funk não é justificável, “mas que existem relações entre os<br />

dois mundos, como entre o funk e o pagode, isso me parece evidente”<br />

(p. 104).<br />

E, por fim, outro ponto do baile funk que o faz ser tão odioso para<br />

a sociedade é que ele “não serve para nada”, não há de fato nenhuma<br />

funcionalidade nessa folia. Os bailarinos se divertem como se o<br />

mundo fosse acabar, naquele momento não há passado nem futuro,<br />

9 James Brown, em 1968, em um movimento de conscientização dos negros<br />

norte-americanos, cantava: “Say it loud – I’m black and I’m proud”. Segundo<br />

Vianna (1997) James Brown era um dos cantores mais tocados nos bailes<br />

da cidade do Rio de Janeiro no ano de 1970, dentro do espírito “black is<br />

beautiful”.<br />

126 SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 108-141 | MAIO > AGOSTO 2011

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