Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
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projeto social 7 , o próprio estilo de dança baseado nos elementos de<br />
cultura corporal 8 dos alunos é significativo para eles e, principalmente,<br />
se distancia do estereótipo feminilizante atribuído ao balé clássico.<br />
Um dos alunos chegou a comentar que no início não se autodenominava<br />
bailarino, pois tinha vergonha do que os amigos iriam dizer: “Quando<br />
me perguntavam, eu dizia que era passista, aprendiz de mestre-sala<br />
do Salgueiro Mirim, até rei Momo, qualquer coisa, menos bailarino.” O<br />
bailarino foi criando uma polissemia da dança para poder se explicar. Ao<br />
associá-la com o samba, daí a ideia de passista, ou com as escolas de samba<br />
e o Carnaval em geral, ele tenta pertencer a algo que já é legitimado<br />
pelos pares e usa um acordo de falas para não ser considerado diferente.<br />
Hoje em dia, ser bailarino do Projeto I, segundo esses alunos, é<br />
possuir referências, é pertencer a um tipo de linguagem, é ser reconhecido<br />
entre os pares do morro e do asfalto. Um aspecto interessante<br />
observado é que há professores que dão aulas em vários projetos, alunos<br />
que fazem apresentações especiais em outras academias, bailarinos e<br />
coreógrafos que são convidados para dançar no Projeto I, enfim, bailarinos<br />
do asfalto e do morro se misturam, se diferenciam e se igualam,<br />
desenvolvem parcerias, trocam saberes e dividem uma mesma cena.<br />
No momento das trocas não há pobre ou rico, o que se vê são bailarinos.<br />
De fato, se por um lado eles se diferenciam em seu modo de<br />
inserção social, por outro eles compartilham códigos, vínculos simbólicos<br />
que os aproximam uns dos outros, representações coletivas. Não<br />
importa se alguém é branco ou preto, o que importa é se a perna sobe<br />
180 graus, se a pirueta é em quarta ou segunda posição, ou se fulano é<br />
alongado, talentoso, exibicionista, entre outras coisas. Xiberras (2000)<br />
afirma que qualquer perspectiva de inserção ou inclusão tem necessariamente<br />
que passar por longo caminho até que espaços reais para as<br />
trocas simbólicas sejam abertos.<br />
7 O Projeto oferecia uma bolsa de R$50 para cada aluno.<br />
8 Um ensino a partir da concepção de cultura corporal, de acordo com a<br />
interpretação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), pode ser relacionado<br />
à estrutura desse projeto, uma vez que tem como proposta valorizar as<br />
formas de expressão que os alunos trazem da comunidade, resgatar elementos<br />
de uma etnicidade menosprezada pela “cultura branca” dominante e, a partir<br />
daí, criar uma nova linguagem artística.<br />
124 SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 108-141 | MAIO > AGOSTO 2011