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Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc

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As aulas de dança contemporânea observadas revelam a grande<br />

mistura de linguagens presentes no Projeto , como: elementos de solo<br />

da dança moderna com ênfase nos movimentos de contração e expansão<br />

e alongamento, elementos de força da dança contemporânea<br />

e gestos influenciados pela dança de rua e pela dança afro-brasileira.<br />

Na vivência corporal, outros imaginários são resgatados, proporcionando<br />

um distanciamento de aspectos mais ligados ao utilitarismo e<br />

uma aproximação da dimensão artística e lúdica.<br />

Essa corporeidade, desprendida de um discurso racional, permite<br />

que os mitos e os deuses da mitologia negra sejam evocados no palco.<br />

Há nos espetáculos um resgate das origens étnicas, ao mesmo tempo<br />

em que o cotidiano atual do morro também é coreografado. Essa tendência<br />

de levar o morro para o palco se assemelha à corrente bauschiana,<br />

que transporta gestos cotidianos para a cena, dando-lhes uma<br />

dimensão estética.<br />

O próprio fato de levar a pobreza dos gestos cotidianos contemporâneos<br />

para o palco ou algumas danças socialmente consagradas já<br />

é uma forma de denunciá-los, de mostrar seus limites e interdições<br />

e a partir daí transformá-los. A improvisação, a retórica urbana e os<br />

objetos ordinários que compõem o cenário das favelas, como sacos<br />

de lixos, ganham uma dimensão estética e toda uma outra rede de<br />

sentidos quando postos em cena.<br />

Essa ideia de transformação abre espaço para uma plasticidade semântica,<br />

em que a ação de dar uma nova forma pode ser vivida de<br />

várias maneiras. Dar nova forma ao cotidiano pode significar que a<br />

rotina será alterada, que novas relações serão formadas, que outros<br />

mitos e crenças serão reavivados, que os desejos podem mudar, enfim,<br />

que outras formações simbólicas permearão o cotidiano desses<br />

jovens, criando novos sentidos a partir das novas experiências vividas.<br />

Diferentemente da cristalização de sentidos do discurso social mostrado<br />

nos jornais, transformar não passa só pela ideia de abandonar<br />

a favela e ser incorporado no universo do asfalto, ou deixar de ser<br />

desviante, ocioso, mundano, ou de se perder na vida optando pelo<br />

espaço da rua. O verbo transformar é polissêmico, é vivido por cada<br />

bailarino de forma singular e única. Não existe um modelo de transformação<br />

quando se pensa em uma experiência artística, lúdica, criativa.<br />

Cada um se transfigura de modo diferente a partir da arte.<br />

SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 108-141 | MAIO > AGOSTO 2011<br />

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