Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
anheiro misto. Todo o acabamento do local era bastante simples,<br />
com paredes cinza, chão de madeira, louças brancas e um mural coberto<br />
por folhas impressas com diversas informações.<br />
Fui assistir a um espetáculo. Emocionante. Muito criativo. Muito diferente.<br />
Em termos de dança, uma companhia ainda nova, crua em<br />
termos de técnica, porém com bastante expressividade. Como se eles<br />
soubessem o que queriam passar teatralmente. Tinham muita força<br />
para representar o que estavam sentindo e o que viviam. Havia muita<br />
improvisação, muito estudo do movimento, muitas experimentações<br />
cênicas. Gostei!<br />
O debate em si já era emocionante, toda a companhia participava<br />
e todos falavam. Impressionante como aqueles jovens eram alegres<br />
e articulados para falar, muito mais que qualquer bailarino de classe<br />
média, pensei. Falavam sobre a experiência na dança, sobre o preconceito.<br />
Fiquei maravilhada.<br />
Logo percebi uma conscientização política que passava, principalmente,<br />
pela fala da coreógrafa. Ela dizia: “Falo sobre as coisas que me<br />
indignam, sobre o que as pessoas não querem ver”.<br />
Quando a plateia começou a participar do debate, a questão sobre o<br />
que movia as pessoas a assistirem ao espetáculo começou a ficar mais<br />
clara. As pessoas olhavam para a coreógrafa como se ela fosse uma<br />
pessoa especial, “salvando” aqueles jovens. Tudo me soou como uma<br />
espécie de idealização ideológica e religiosa. O olhar e as palavras<br />
proferidas pela plateia eram de admiração. Mas não de um êxtase<br />
provocado por uma obra de arte.<br />
O aspecto artístico parecia não ser o principal. Dois comentários da<br />
plateia confirmaram minhas intuições. Uma moça falou: “Como foi<br />
apresentar esse trabalho em uma mostra de dança?” (a mostra a que<br />
ela se referia ocorre todo ano, ocasião em que várias companhias de<br />
dança conhecidas se apresentam em teatros espalhados pela cidade).<br />
A coreógrafa respondeu que tinha sido muito legal e que, afinal, eles<br />
eram uma companhia de dança, o que, subliminarmente, deixava claro<br />
que eles não se representavam como pobres e favelados que tiveram<br />
a oportunidade de dançar, mas como artistas bailarinos.<br />
A segunda pergunta foi ainda mais significativa. Na verdade não foi<br />
uma pergunta, foi uma colocação que mais ou menos dizia assim: “Eu<br />
SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 108-141 | MAIO > AGOSTO 2011<br />
119