Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
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Essa homogeneização do discurso foi enfocada nos estudos de<br />
Preteceille e Valladares (2000), que revelam que seria ingênuo considerar<br />
o universo das favelas como uma unidade ou um espaço homogêneo,<br />
pois elementos indicativos de sua diversidade logo aparecem:<br />
localização dentro da cidade; relevo do terreno; antiguidade; grau de<br />
consolidação das construções; verticalização; nível dos equipamentos<br />
e serviços; condição jurídica de ocupação; presença ou não de “organização”<br />
de tráfico de drogas. Muitas vezes a arquitetura pode até<br />
se mostrar monótona, apresentando algumas semelhanças no tipo de<br />
material de construção, nos quintais, nos tipos de portas e janelas e até<br />
na distribuição dos cômodos, mas logo as diferenças se definem nos<br />
acessórios que se destacam no interior das casas, pelo tipo de mobília,<br />
pelos aparelhos eletrodomésticos: fogão de seis bocas, freezer, presença<br />
de aparelhos eletrônicos, como televisores, videocassetes, DVDs,<br />
CDs e computadores.<br />
Os acessórios funcionam como símbolo de status, uma forma de<br />
comunicar as distinções sociais. É o que Bourdieu (1992) chama de<br />
“capital simbólico”, referindo-se ao acúmulo de bens de consumo que<br />
atestam a classe social de quem os possui. Entretanto, esse capital não<br />
é estático, ele só se mantém como capital simbólico na medida em<br />
que se cria em torno dele uma produção de sentidos que faça com<br />
que ele atenda aos desejos dos consumidores. Muitos adolescentes<br />
entrevistados fizeram questão de mencionar que passavam o dia “jogando<br />
videogame, e do último tipo, minha madrinha me deu de Natal”.<br />
Mais que um simples jogo, o videogame é um símbolo.<br />
Avançando além das questões econômicas e geográficas, a diversidade<br />
da favela também aparece na coloração da pele, no nível de<br />
escolaridade, na vivência da arte, nas experiências de vida, nos gostos,<br />
desejos e fantasias, na religião, nos princípios morais, enfim, existe<br />
um universo de diferenças de uma favela para outra e dentro de uma<br />
mesma favela.<br />
Pode-se dizer que a favela é composta por várias tribos, com mecanismos<br />
de regulagem muito sofisticados e distintos. Segundo Maffesoli<br />
(1987), de fato existe uma partilha geográfica e simbólica de territórios,<br />
formando vários reagrupamentos, que se apoiam em múltiplas<br />
sociabilidades. Para o autor, “o coeficiente de pertença não é absoluto,<br />
cada um pode participar de uma infinidade de grupos, investindo<br />
116 SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 108-141 | MAIO > AGOSTO 2011