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Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc

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Os alunos, em geral, gostam de dar depoimentos sobre sua experiência<br />

dentro e fora da dança, revelando orgulho de fazer parte daquela<br />

tribo, sem, contudo, deixar de apontar a realidade que eles vivem<br />

fora do projeto. Segundo Maffesoli (1987), a constituição dessas tribos<br />

se faz a partir do sentimento de pertença, em função de uma ética<br />

específica e no quadro de uma rede de comunicação.<br />

Na medida em que as histórias de vida eram relatadas, a pluralidade,<br />

a heterogeneidade e a riqueza de experiências recheavam aqueles<br />

discursos, mostrando desde o início que o que fora visto nas reportagens<br />

jornalísticas em relação aos projetos não abarcava a complexidade<br />

do todo. Outros sentidos começaram a emergir.<br />

Na interpretação das reportagens de jornal observou-se que, de<br />

modo geral, os discursos se baseavam em premissas falsas, as quais,<br />

como aponta Orlandi (1993), foram consideradas verdadeiras por<br />

uma produção ideológica historicamente construída e reforçada ao<br />

longo dos anos. O discurso social do asfalto considera que todos os<br />

jovens dos morros da cidade do Rio de Janeiro são iguais, possuem<br />

uma só face de favelado – ou seja, são o outro da cidade, o feio, o<br />

preto, o pobre – e que precisam ser salvos, corrigidos ou inseridos<br />

urgentemente.<br />

As premissas da “salvação”, recorrendo ao imaginário religioso, da<br />

“correção”, sob o viés da moralidade, e da “inserção”, dentro de uma<br />

perspectiva política, são formas elegantes de exclusão, uma vez que as<br />

soluções assistencialistas, na maioria das vezes, não atendem às questões<br />

relativas ao direito à diferença (DEMO, 1998).<br />

Retornando à cidade partida, parte-se do princípio de que toda divisão<br />

de classes é definida por uma determinação econômica; os ricos<br />

moram no asfalto e os pobres e miseráveis nos morros. Entretanto, a<br />

partir dessa primeira divisão vieram outras, que não mais se reportavam<br />

a um fato, mas que foram se construindo simbolicamente no imaginário<br />

das pessoas. Ser favelado, por derivações morais estabelecidas pela ideologia<br />

dominante, abarca as questões da etnia, ou seja, significa ser negro;<br />

da ordem social, significa ser desviante; da cultura, ser aculturado;<br />

da sociedade, não exercer a cidadania; das artes, não possuir qualquer<br />

acesso; e da educação, ser quase analfabeto, por uma questão de precariedade<br />

do ensino público, ou mesmo por uma dificuldade de aprendizado<br />

oriunda de uma debilidade genética inerente à sua origem.<br />

SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 108-141 | MAIO > AGOSTO 2011<br />

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