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Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc

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INTRODUÇÃO<br />

A Proclamação da República consolidou e remodelou a cidade do<br />

Rio de Janeiro, sem, no entanto, permitir que se formassem cidadãos.<br />

Isso parece um contrassenso, uma vez que a implantação do novo<br />

regime, inspirado na melhor tradição da Revolução Francesa de 1789,<br />

se propunha exatamente a trazer o povo para o proscênio da cena<br />

política. É difícil imaginar uma República sem participação pública. Da<br />

Matta e Soarez (1999) trouxeram à tona o caráter arbitrário e elitista<br />

da situação. Segundo os autores, a reduzida participação popular no<br />

processo de transição republicana conferiu-lhe um aspecto de surpresa,<br />

mais próximo do que se convencionou chamar de golpe. A massa<br />

populacional foi tomada de assalto pela parada militar de Deodoro e<br />

reagiu com incredulidade frente àquele evento aleatório e completamente<br />

exterior ao curso normal de seu cotidiano.<br />

As ideias de uma democracia liberal estavam realmente sem contexto<br />

em nossa sociedade, ou, como diz Schwarz (2000), estavam definitivamente<br />

“fora do lugar”.<br />

Refletindo sobre a disparidade entre a sociedade brasileira negra de<br />

origem escravista e as ideias do liberalismo europeu, Sérgio Buarque<br />

de Holanda, em seu livro Raízes do Brasil, observa que a tentativa de<br />

implantação da cultura europeia em nosso território, em geral adverso<br />

em todos os sentidos, tornou-se, nas origens da sociedade brasileira, o<br />

fato dominante e mais rico em consequências. Para o autor, “trazer de<br />

países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições e nossas<br />

ideias e tentar manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável<br />

e hostil caracteriza nossa história, somos uns desterrados em nossas<br />

próprias terras” (HOLANDA, 2002, p. 31) 1 .<br />

1 Essa expressão do autor pode ser estendida para a concepção de dança<br />

acadêmica que foi trazida para o Brasil. O rigor dos padrões estéticos do balé<br />

clássico russo e europeu não se adequava nem ao corpo arredondado, nem à<br />

cor morena, e muito menos ao espírito dos brasileiros. Era como se um novo<br />

corpo tivesse que ser construído.<br />

110 SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 108-141 | MAIO > AGOSTO 2011

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