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Educação em Rede - Sesc

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Os alunos da EJA, <strong>em</strong> geral, vêm procurar os estudos, muitas vezes, acreditando<br />

que a escola representa uma via concreta e objetiva de garantir por si a inclusão social.<br />

Deixam de ver, por outro lado, que a EJA, tal como um direito, representa uma<br />

possibilidade de construção de uma trajetória rumo às chances de inclusão social<br />

que estão colocadas na nossa sociedade, sendo marcadas, nestes t<strong>em</strong>pos neoliberais,<br />

sobretudo, por uma grande timidez, limitação ou escassez de oportunidades.<br />

Daí a complexidade da tarefa daqueles que se dispõ<strong>em</strong> a trabalhar a serviço de uma<br />

educação transformadora, e nisso consiste sua tarefa revolucionária: receber, acolher,<br />

estimular e coletivizar pessoas, nas quais a baixa autoestima e a falta de amor<br />

próprio e autoconfiança formaram uma espécie de cadeado, que fecha boa parte<br />

das passagens no coração humano para uma vida mais intensa, vivida com mais<br />

profundidade na sua dimensão humanista e filosófica. Curiosamente, essa condição<br />

representa algo parecido com uma espécie de cárcere ou prisão, sendo, nesse caso,<br />

b<strong>em</strong> diferente daquilo que encontramos pelas delegacias e presídios de nossas cidades<br />

e do nosso país. Trata-se de um “aprisionamento s<strong>em</strong> paredes”. Portanto, a<br />

luta que é travada pela maioria dos educandos da EJA t<strong>em</strong> como sentido principal a<br />

inclusão nos limites daquilo que é chamado de cidadania, e, não, pela fuga de suas<br />

fronteiras, tal como ocorre nas prisões de concreto. As grades desse novo tipo de cadeia<br />

são formadas pelos fatores responsáveis nas sociedades cont<strong>em</strong>porâneas por<br />

todas as formas de exclusão social, das quais muitos alunos da EJA são, por diversos<br />

motivos, vítimas e prisioneiros neste país.<br />

Faço aqui uma referência a um pensamento de Freire (1986), do final da década<br />

de 1950, e que mais tarde veio a ser desenvolvido na “pedagogia do oprimido”,<br />

acerca do probl<strong>em</strong>a do analfabetismo no Brasil. Dizia ele: “O analfabetismo no<br />

Brasil é um probl<strong>em</strong>a. A alfabetização não é a sua solução.” Segundo o filósofo da<br />

educação, essa questão deve ser analisada sob dois aspectos. Primeiramente, o<br />

analfabetismo deve ser visto não como um probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> si, mas, sim, um sintoma<br />

de algo muito maior, cujas raízes se encontram na própria exclusão social; portanto,<br />

combatê-lo deve significar combater os fatores causadores da miséria e de outros<br />

probl<strong>em</strong>as que aflig<strong>em</strong> as camadas mais pobres da sociedade brasileira, vítimas<br />

do analfabetismo e não simplesmente responsáveis por ele. Por outro lado, Freire<br />

l<strong>em</strong>bra que toda a trajetória de exclusão social e analfabetismo gerou e continua<br />

gerando mais miséria. Portanto, estando sua solução para além da escola, toda<br />

tentativa de promover a inclusão cidadã partindo somente da alfabetização e da<br />

educação se faz inócua, a menos que ambas as ações sejam encaradas como atos<br />

políticos, comprometendo-se com mudanças mais profundas nas relações sociais<br />

<strong>Educação</strong> <strong>em</strong> <strong>Rede</strong> Currículos <strong>em</strong> EJA: saberes e práticas de educadores<br />

33<br />

EJA: de ensino<br />

supletivo à<br />

condição de um<br />

novo paradigma<br />

para a educação<br />

no t<strong>em</strong>po<br />

presente

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