Educação em Rede - Sesc
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<strong>em</strong> que este o encerra, constituindo-se numa verdadeira batalha perdida (LUCKESI,<br />
1990, p. 45-48).<br />
Segundo Poulantzas (1981, p. 162), mesmo que a escola fosse capaz de tornar<br />
o educando crítico, passando a ser sujeito de si próprio e partícipe das lutas populares,<br />
estaria ainda assim inscrita nos aparelhos de poder que materializam essas<br />
lutas, pois, segundo ele, há um “encadeamento complexo do Estado com o conjunto<br />
de dispositivos de poder”. Para frisar esse aspecto, ele aponta o fato de que<br />
o próprio Estado, como ponto de equilíbrio instável da seleção entre frações das<br />
classes dominantes e das classes dominadas, possui um mecanismo de “seletividade<br />
estrutural” da informação, dado por parte de um aparelho e de medidas tomadas<br />
pelos outros. Essa seletividade resulta da materialidade e história próprias de cada<br />
aparelho, da representação específica de interesses particulares <strong>em</strong> seu interior e<br />
do seu lugar na configuração da relação de forças dentro do Estado, incluindo-se<br />
aqui a escola (ibid<strong>em</strong>, p. 154). Daí a mais crítica e revolucionária escola permanecer<br />
inscrita no conjunto de aparelhos que reproduz<strong>em</strong> o tipo de dominação numa<br />
dada sociedade, a não ser que ponha <strong>em</strong> xeque os el<strong>em</strong>entos fundantes dessa organização<br />
social, tarefa árdua e inócua, pois seu raio de alcance e a correlação de<br />
forças com outros aparelhos jamais lhe serão favoráveis.<br />
Até aqui, o que se observa, portanto, é o fato de que a escola não é o espaço<br />
privilegiado para uma ação revolucionária, que envolva mudança de valores ou<br />
consciência das classes dominadas, pois a ideologia dominante atua sobre sua organização,<br />
limitando suas possibilidades de subverter uma relação social de exploração<br />
e dominação.<br />
Para Bourdieu (1996, p. 105), é especialmente por meio da escola que as categorias<br />
do pensamento são elaboradas e impostas, o que, a princípio, condiciona<br />
toda a visão de mundo reproduzida pela escola como restrita, porque é produzida<br />
e garantida pelo Estado. Enquanto formadora de hábitos, a escola “propicia aos que<br />
se encontram direta ou indiretamente submetidos a sua influência uma disposição<br />
geral geradora de esqu<strong>em</strong>as particulares capazes de ser<strong>em</strong> aplicados <strong>em</strong> campos<br />
diferentes do pensamento e da ação” (id<strong>em</strong>, 1987, p. 210), denominada “habitus<br />
cultivado”, realizando um conjunto de operações que atuam no consciente e no<br />
inconsciente dos indivíduos, internalizando esqu<strong>em</strong>as que faz<strong>em</strong> parte da cultura.<br />
Tentando escapar do determinismo estrutural, Bourdieu identifica a tarefa das<br />
pedagogias escolares como uma forma de habitus, ou seja, um sist<strong>em</strong>a de disposições<br />
inculcado na pessoa <strong>em</strong> desenvolvimento, com o objetivo de gerar os tipos<br />
<strong>Educação</strong> <strong>em</strong> <strong>Rede</strong> Currículos <strong>em</strong> EJA: saberes e práticas de educadores<br />
27<br />
EJA: de ensino<br />
supletivo à<br />
condição de um<br />
novo paradigma<br />
para a educação<br />
no t<strong>em</strong>po<br />
presente