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Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi

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pelo norte, <strong>um</strong>a vez que recebe <strong>um</strong> grande afluxo de migrantes <strong>do</strong> norte<br />

e <strong>do</strong> Nordeste <strong>do</strong> país, sem mencionarmos o fato de que se trata de <strong>um</strong>a<br />

metrópole cosmopolita.<br />

A noção de Sul é, portanto, relativa e não deve ser reificada, ou definida<br />

<strong>com</strong>o realidade objetiva, ou substantivada. À noção de Norte não podemos<br />

aludir o senti<strong>do</strong> geográfico devi<strong>do</strong> a sua heterogeneidade. há alg<strong>um</strong>as<br />

décadas, o Norte era denomina<strong>do</strong> de Ocidente em oposição ao Oriente e,<br />

posteriormente, quan<strong>do</strong> o termo Terceiro Mun<strong>do</strong> caiu em desuso, o Norte<br />

tornou-se oposição de Sul. Oriunda <strong>do</strong> ocidente europeu e desenvolvida<br />

no mun<strong>do</strong> anglo-saxão, à cultura <strong>do</strong> Norte é atribuída a hegemonia <strong>do</strong><br />

desenvolvimento material, da técnica, <strong>do</strong> progresso, da economia, <strong>do</strong> cons<strong>um</strong>ismo,<br />

da rentabilidade, da racionalização.<br />

O <strong>pensamento</strong> <strong>do</strong> Norte supervaloriza o <strong>pensamento</strong> redutor, hiperespecializa<strong>do</strong>,<br />

quantitativo e disjuntivo, incentiva exageradamente o cons<strong>um</strong>ismo,<br />

a unificação tecnoeconômica, a mundialização, o <strong>com</strong>prometimento<br />

e a homogeneização de aspectos socioculturais e da própria condição<br />

natural <strong>do</strong> planeta.<br />

No entanto, <strong>um</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>do</strong> Sul deve ser consciente e crítico no<br />

tocante a essas noções, <strong>um</strong>a vez que a hegemonia <strong>do</strong> Norte se expande<br />

pelo mun<strong>do</strong>, e que, <strong>com</strong> a mundialização, tenta devorar o Sul. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, não podemos desconsiderar a visão de que a cultura <strong>do</strong> Norte trouxe<br />

a democracia, os direitos h<strong>um</strong>anos, os direitos das mulheres.<br />

Existem vários "suis", uns diferentes <strong>do</strong>s outros, e que ao olhar <strong>do</strong> Norte<br />

são concebi<strong>do</strong>s unicamente <strong>com</strong>o sinônimo de atraso, de subdesenvolvimento,<br />

sob vários aspectos da necessidade de seu desenvolvimento econômico,<br />

tecnológico e de modernização.<br />

Essa visão <strong>do</strong> Norte não consegue conceber nos "suis" suas qualidades,<br />

virtudes, a riqueza nas diversidades culturais e no mo<strong>do</strong> de viver, na poesia<br />

e na tradição, nos mitos seculares; sua maior possibilidade de abertura<br />

ao conhecimento n<strong>um</strong> contexto abrangente, à rearticulação <strong>do</strong>s saberes<br />

<strong>com</strong>partimenta<strong>do</strong>s, à relação entre o h<strong>um</strong>ano e o mun<strong>do</strong> natural, ao meio<br />

ambiente, ao contexto global.<br />

Mas as diferentes culturas <strong>do</strong>s "suis" também são responsáveis pela<br />

manutenção de poderes políticos e religiosos autoritários, ditatoriais, da<br />

<strong>do</strong>minação <strong>do</strong> homem sobre a mulher e <strong>do</strong>s vários tipos de censura. Exemplos<br />

que podem ser en<strong>um</strong>era<strong>do</strong>s <strong>com</strong> as ditaduras militares ocorridas na<br />

América <strong>do</strong> Sul e Central, e em países <strong>do</strong> norte da áfrica, <strong>com</strong>o Tunísia,<br />

Argélia, Egito, Líbia e outros países <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> árabe e da áfrica Negra, Sudão,<br />

República <strong>do</strong> Congo, Costa <strong>do</strong> Marfim, Camarões, países que foram

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