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Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi

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tismo e na busca de inclusão digital para crianças pobres. Amartya Sen<br />

e Mahbub ul haq, cria<strong>do</strong>res <strong>do</strong> índice de Desenvolvimento h<strong>um</strong>ano (IDh),<br />

apenas para citar alg<strong>um</strong>as experiências inova<strong>do</strong>ras.<br />

Ares de renovação incidem também na produção intelectual, incluin<strong>do</strong><br />

a dimensão <strong>do</strong> afeto na constituição <strong>do</strong>s atores sociais. Fazen<strong>do</strong> suplência<br />

ao <strong>pensamento</strong> de habermas, Axel honneth introduz a questão <strong>do</strong> amor<br />

primário, vivi<strong>do</strong> na relação mãe-bebê <strong>com</strong>o imprescindível forma de reconhecimento.<br />

Sobre essa base serão edifica<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is outros patamares<br />

sociais de reconhecimento: a justiça e a solidariedade.<br />

Se vivemos <strong>um</strong> momento de muitas crises, podemos escolher enfrentá-<br />

-lo <strong>com</strong>o infortúnio ou <strong>com</strong>o oportunidade. Inscrevo-me entre os que veem<br />

as crises <strong>com</strong>o incríveis oportunidades de mudança e renovação de tu<strong>do</strong><br />

aquilo que se cristalizou e pleiteou eternização. Partilho <strong>um</strong>a <strong>com</strong>preensão<br />

da vida <strong>com</strong>o processo sempre inacaba<strong>do</strong>, onde o novo emerge incita<strong>do</strong><br />

pelas angústias <strong>do</strong> presente, pelas projeções futuras, mas também, e sempre,<br />

a partir das sombras <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />

é ingênuo pensar que as transformações sociais que testemunhamos<br />

através da história impliquem extinção <strong>do</strong>s valores da tradição. Ao contrário,<br />

servimo-nos deles para operar as mudanças necessárias ao enfrentamento<br />

<strong>do</strong>s desafios contemporâneos. Chamarei de "paradigma da queda<br />

generalizada" à prevalência da difusão da "crença no esvaziamento".<br />

Segun<strong>do</strong> esse ponto de vista, a ausência de marca<strong>do</strong>res socioculturais,<br />

claramente postos <strong>com</strong>o nortes para a ação <strong>do</strong> indivíduo em sociedade,<br />

evidencia e promove <strong>um</strong>a desarticulação entre os governos de si e da pólis.<br />

Prenuncia-se, assim, <strong>um</strong>a catástrofe de dimensões incalculáveis.<br />

A adequação desses discursos à realidade revela-se frágil e pouco resistente<br />

a <strong>um</strong>a investigação mais acurada. O que essa vertente de <strong>pensamento</strong><br />

percebe e descreve é, em minha opinião, apenas <strong>um</strong>a parte <strong>do</strong>s<br />

processos de mudança expressos em seus aspectos mais espetaculares e<br />

por isso mesmo mais visíveis.<br />

Esse olhar incorre, portanto, no equívoco de tomar o to<strong>do</strong> pela parte<br />

mais evidente de <strong>um</strong>a realidade que, em geral, é sempre mais <strong>com</strong>plexa<br />

<strong>do</strong> que parece. Reduzida por esse prisma, pode tornar-se sombria e assusta<strong>do</strong>ra,<br />

converten<strong>do</strong>-se em profecia pessimista projetada sobre os ombros<br />

das novas gerações.<br />

Existe <strong>um</strong> fervilhante mutirão de pequenas ações sociais que opõem<br />

resistência às forças <strong>do</strong>minantes. Agin<strong>do</strong> subcutaneamente na restauração<br />

<strong>do</strong> teci<strong>do</strong> social, essas ações são invisíveis. E o invisível confunde-se<br />

<strong>com</strong> o inexistente. Nesse senti<strong>do</strong>, não pode ser ofereci<strong>do</strong> <strong>com</strong>o referência.<br />

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