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Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi

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Aqui não posso deixar de fazer <strong>um</strong> registro, sublinhan<strong>do</strong> meu olhar oti-<br />

mista. Diz-se que a paixão não é boa <strong>com</strong>panheira da razão, mas seria<br />

absurda a ideia de que a razão existe sem emoção, sem paixão. Prefiro<br />

extrair de minha indignação a energia que o otimismo alimenta. que possa,<br />

de maneira fundada, despertar a necessária mobilização criativa para<br />

enfrentar os desafios coloca<strong>do</strong>s, que impeça <strong>um</strong>a catástrofe anunciada,<br />

nuclear ou ambiental, e retome o caminho da felicidade.<br />

A metáfora, genialmente recuperada por Bergman em seu filme o Ovo<br />

da serpente, muito se aplica neste momento. O ovo da serpente, quan<strong>do</strong><br />

coloca<strong>do</strong> contra a luz, permite visualizar a serpente, o monstro, em seu<br />

crescimento, ainda que não se possa percebê-la n<strong>um</strong> olhar externo, desprovi<strong>do</strong><br />

da luz. O cineasta utilizou essa metáfora para mostrar <strong>com</strong>o, após<br />

a Primeira guerra Mundial, engendrava-se na Alemanha, de maneira não<br />

perceptível, o monstro <strong>do</strong> nazismo, capaz de <strong>com</strong>eter as atrocidades que<br />

to<strong>do</strong>s vieram a conhecer.<br />

é possível olharmos este momento "contra a luz" e enxergarmos a catástrofe<br />

se avol<strong>um</strong>an<strong>do</strong> <strong>com</strong>o <strong>um</strong>a tsunami, mas, ao mesmo tempo, cresce<br />

<strong>um</strong>a consciência <strong>do</strong>s riscos, <strong>um</strong> <strong>pensamento</strong> liberta<strong>do</strong>r dessa hegemonia,<br />

crian<strong>do</strong> as bases de <strong>um</strong>a metamorfose liberta<strong>do</strong>ra, <strong>com</strong>o tantas vezes se<br />

sucedeu na história <strong>do</strong> homem. é possível ver a crise <strong>com</strong> otimismo, <strong>com</strong>o<br />

condição de sua superação.<br />

No Brasil, <strong>um</strong> operário é eleito presidente da República e é sucedi<strong>do</strong><br />

por <strong>um</strong>a mulher, algo que tem o reconhecimento mundial, da<strong>do</strong> o lugar<br />

secundário em que é colocada a mulher nos países <strong>do</strong> Sul. Não bastasse, a<br />

mulher em questão é ainda <strong>um</strong>a ex-guerrilheira, sobrevivente das lutas democráticas.<br />

há a vitória de Mandela, o programa verdade e Reconciliação,<br />

a construção de <strong>um</strong> novo caminho, derrotan<strong>do</strong> o apartheid e inscreven<strong>do</strong><br />

seu ideário no imaginário da cena mundial. há o Merco<strong>sul</strong>, a adesão de<br />

mais países da América <strong>do</strong> Sul, as pontes diplomáticas, culturais, sociais e<br />

econômicas em construção <strong>com</strong> a áfrica.<br />

Como se diz que no Brasil tu<strong>do</strong> acaba em futebol e samba, por que<br />

não falar da sequência de Copas <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> no Sul, áfrica <strong>do</strong> Sul (2010),<br />

Brasil (2014), Rússia (2018) e qatar (2022)? Sinais de <strong>um</strong> novo diálogo<br />

civilizatório?<br />

O Fór<strong>um</strong> Social Mundial, a miríade de movimentos sociais, colocan<strong>do</strong><br />

em alto som a exigência de <strong>um</strong> novo caminho, que coloque a paz, a fraternidade,<br />

a solidariedade, a harmonia <strong>com</strong> a biosfera no centro <strong>do</strong> desenvolvimento.<br />

A mobilização da opinião pública mundial, que, até pelo menos<br />

este momento em que escrevo estas linhas, sustou a execução da morte<br />

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