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Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi

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as solidariedades tradicionais, gerou novas formas de corrupção e fez<br />

prosperar as desigualdades, promoven<strong>do</strong> pobrezas e misérias.<br />

l) Presenciamos <strong>um</strong>a fantástica unificação <strong>do</strong> planeta Terra, a transformação<br />

em <strong>um</strong>a verdadeira aldeia global, a qual coincide <strong>com</strong> <strong>um</strong> movimento<br />

de de<strong>com</strong>posição e de desagregação sociocultural, ameaçan<strong>do</strong> as<br />

originalidades e as singularidades culturais, étnicas e nacionais, promoven<strong>do</strong><br />

<strong>um</strong>a incerteza histórica que promove a perda de fé no progresso e a<br />

perda de esperança em <strong>um</strong> mun<strong>do</strong> melhor para to<strong>do</strong>s.<br />

m) Assistimos ao desencadeamento simultâneo de duas pragas para a<br />

h<strong>um</strong>anidade: de <strong>um</strong> la<strong>do</strong>, a unificação abstrata e homogeneizante que destrói<br />

as diversidades; de outro la<strong>do</strong>, o fechamento das singularidades em si<br />

mesmas, isolan<strong>do</strong>-as <strong>do</strong> resto da h<strong>um</strong>anidade. é preciso entender o vínculo<br />

entre a unidade e a diversidade, que faz <strong>com</strong> que o tesouro da unidade<br />

h<strong>um</strong>ana seja o da diversidade e este o da unidade, para que a cegueira<br />

promovida por <strong>um</strong> <strong>pensamento</strong> funda<strong>do</strong> essencialmente no cálculo e cego<br />

para a existência da alegria, <strong>do</strong> sofrimento e da felicidade e infelicidade<br />

não acabe cegan<strong>do</strong> as nossas consciências para o la<strong>do</strong> h<strong>um</strong>ano da h<strong>um</strong>anidade,<br />

ignoran<strong>do</strong> as qualidades da vida.<br />

n) <strong>um</strong>a das promessas <strong>do</strong> Sul deveria ser "antes melhor <strong>do</strong> que<br />

mais", ou seja, "menos, porém melhor". <strong>Para</strong> tanto, precisamos nos livrar<br />

das intoxicações cons<strong>um</strong>istas promovidas pelo processo mundial<br />

de produção e cons<strong>um</strong>o de objetos <strong>com</strong> qualidades ilusórias e obsolescências<br />

programadas.<br />

o) O <strong>pensamento</strong> fundamenta<strong>do</strong> no homo economicus, determina<strong>do</strong><br />

unicamente pelo interesse pessoal, é cego a tu<strong>do</strong> o que escapa desse interesse:<br />

o amor, a dádiva, a <strong>com</strong>unhão, a solidariedade, a responsabilidade, a<br />

unidade, a diversidade, o lazer, a brincadeira, a cultura, a alegria, a poesia,<br />

a filosofia e a felicidade.<br />

p) Os indivíduos h<strong>um</strong>anos não são máquinas triviais, mesmo que<br />

subjuga<strong>do</strong>s a lógicas triviais, pois escapam das trivialidades por intermédio<br />

de suas aspirações, sonhos, súbitas manifestações amorosas,<br />

estéticas e transgressoras, <strong>com</strong> seu poder cria<strong>do</strong>r frente ao inespera<strong>do</strong><br />

e ao inusita<strong>do</strong>.<br />

q) As lógicas da eficiência e da eficácia, da previsibilidade, <strong>do</strong> cálculo<br />

cronometra<strong>do</strong> e hiper especializa<strong>do</strong>, geram <strong>um</strong>a burocracia que gangrena<br />

as atividades gestoras, crian<strong>do</strong> <strong>um</strong>a racionalização que promove total<br />

irracionalidade.<br />

r) A lógica <strong>do</strong> Norte considera as realidades <strong>do</strong> Sul <strong>com</strong>o a pura expressão<br />

<strong>do</strong> atraso, <strong>do</strong> arcaísmo e da preguiça, porque trata os problemas<br />

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