26.04.2013 Views

Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi

Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi

Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

190<br />

material <strong>do</strong>s países "ricos" <strong>do</strong> Norte, na elaboração de <strong>um</strong>a <strong>com</strong>preensão<br />

universal para to<strong>do</strong>s os povos e <strong>um</strong>a nova civilização.<br />

O agravamento das condições naturais da existência h<strong>um</strong>ana coloca<br />

em xeque o ethos no qual se constitui o <strong>pensamento</strong> hegemônico na civilização<br />

atual. urge <strong>um</strong> consenso mínimo e <strong>um</strong>a postura ética que questione<br />

o nosso mo<strong>do</strong> de estar e atuar no mun<strong>do</strong> para o enfrentamento da crise<br />

planetária. A novidade da participação e contribuição <strong>do</strong>s povos <strong>do</strong> Sul,<br />

<strong>com</strong> singularidades e situação cultural especificas, passa a ser imperativo<br />

para a superação da degradação ambiental e da exclusão social ainda<br />

pre<strong>do</strong>minante no mun<strong>do</strong>. Emergem <strong>do</strong> Sul, em <strong>um</strong>a situação adversa e<br />

subalterna, <strong>um</strong>a cultura e <strong>um</strong>a forma de viver emancipa<strong>do</strong>ras, ligadas a<br />

<strong>um</strong>a nova consciência ecológica, a <strong>um</strong>a mistura étnica/racial configurada<br />

na tradição da solidariedade e da criatividade.<br />

O senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> paradigma <strong>do</strong>minante é a conquista. O conhecimento<br />

é ass<strong>um</strong>i<strong>do</strong> <strong>com</strong>o forma de intervenção e <strong>do</strong>minação da natureza, o que<br />

corresponde a <strong>um</strong>a imagem de mun<strong>do</strong> na qual o ser h<strong>um</strong>ano tem a função<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio sobre o meio ambiente e os demais seres. O ethos vivencia<strong>do</strong><br />

é pouco sensível à alteridade. A homogeneização e a padronização<br />

ameaçam as originalidades e as singularidades culturais. Dessa forma, a<br />

natureza não passa de <strong>um</strong> depósito de recursos, algo a ser manipula<strong>do</strong>, e<br />

o diferente, aquilo que foge à razão instr<strong>um</strong>ental-analítica e à unificação<br />

tecno-econômica, algo a ser destruí<strong>do</strong>. A crise ecológica mostra a insustentabilidade<br />

dessas crenças. O progresso, entendi<strong>do</strong> <strong>com</strong>o crescimento<br />

ilimita<strong>do</strong> e linear, produziu degradação ambiental e subdesenvolvimento.<br />

A Terra não suportaria a universalização <strong>do</strong> patamar de cons<strong>um</strong>o e mo<strong>do</strong><br />

de vida <strong>do</strong>s países ricos.<br />

Erigir pilares para <strong>um</strong>a nova civilização exige <strong>um</strong> novo pensar, sentir,<br />

<strong>um</strong>a vontade de transformação <strong>com</strong> novos referenciais éticos e <strong>um</strong>a nova<br />

forma de <strong>com</strong>preender a h<strong>um</strong>anidade. A experiência <strong>do</strong>s povos <strong>do</strong> Sul tem<br />

elementos fundamentais para essa nova civilização. Eis o desafio: enfrentar<br />

a <strong>com</strong>plexidade da realidade h<strong>um</strong>ana, <strong>com</strong> <strong>um</strong>a <strong>com</strong>preensão ampla<br />

<strong>do</strong> ser h<strong>um</strong>ano e <strong>do</strong> universo, a partir da vivência das contradições <strong>do</strong><br />

modelo civilizatório até então desenvolvi<strong>do</strong>; preservan<strong>do</strong> <strong>um</strong>a sabe<strong>do</strong>ria<br />

nativa de valorização da relação homem-natureza e entre os seres h<strong>um</strong>anos.<br />

De <strong>um</strong> paradigma redutor, pauta<strong>do</strong> pela <strong>do</strong>minação e exploração,<br />

precisamos passar a <strong>um</strong> paradigma capaz de religar conhecimentos, de<br />

valorizar outras formas de relacionamento <strong>com</strong> a natureza e <strong>com</strong> outros<br />

seres h<strong>um</strong>anos e de apresentar <strong>um</strong> novo ethos e senti<strong>do</strong>. Como bem diz<br />

Leonar<strong>do</strong> Boff, "essa mudança precisa ser dialética, vale dizer, ass<strong>um</strong>ir<br />

tu<strong>do</strong> que é assimilável e benéfico <strong>do</strong> paradigma da modernidade e inseri-<br />

-lo dentro de outro diferente mais globalizante e benfazejo". ética, assim<br />

<strong>com</strong>preendida, é a descoberta <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>com</strong>o valor e não <strong>com</strong>o a con-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!