Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi
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Do h<strong>um</strong>anismo, o autor critica a arrogante crença da supremacia h<strong>um</strong>a-<br />
na diante da natureza, enaltecen<strong>do</strong> sua outra face, que valoriza e dignifica<br />
o ser h<strong>um</strong>ano, hoje na condição de integrar a "<strong>com</strong>unidade de destino" na<br />
era planetária. Mas, diante <strong>do</strong> h<strong>um</strong>anismo que dignifica, é necessário problematizar<br />
a própria razão, entenden<strong>do</strong>-a não <strong>com</strong>o <strong>um</strong> bloco hegemônico<br />
de ideias e <strong>pensamento</strong>s fecha<strong>do</strong>s, mas <strong>com</strong>o racionalidade aberta, que<br />
reconhece seus limites no desvendamento <strong>do</strong>s mistérios <strong>do</strong> universo.<br />
Das críticas feitas à racionalidade especializada e dividida em muitos<br />
setores, destaca-se o imperativo da regeneração crítica, particularmente<br />
da autocrítica. Dito isso, o autor propõe a mistura das heranças culturais<br />
mediterrâneas <strong>com</strong> as <strong>sul</strong>-americanas e africanas, para delas extrair sua<br />
"verdade profunda", a que nos reunirá à "nova consciência ecológica" e<br />
à solidariedade, capazes de frear a degradação mundial estimulada pelo<br />
Norte, integran<strong>do</strong> os diversos conhecimentos sobre a vida e a natureza,<br />
sem sobrepujança e destruição.<br />
A civilização caminha, hoje, em meio à crise. Crise da razão, da ocidentalização<br />
e da mundialização. O projeto <strong>do</strong> progresso ilimita<strong>do</strong> diante da<br />
abundância de recursos e matérias-primas há décadas demonstra sua inviabilidade.<br />
São rechaça<strong>do</strong>s, sobretu<strong>do</strong> pelo Norte, os trata<strong>do</strong>s e acor<strong>do</strong>s<br />
globais para minimizar o impacto sobre a natureza e as condições climáticas<br />
nessa atual fase <strong>do</strong> modelo econômico de enriquecimento <strong>do</strong>s países.<br />
De outro la<strong>do</strong>, quanto mais se promove a unificação técnico-econômica<br />
<strong>do</strong> planeta, tanto mais se dão reações de desagregação socioculturais e<br />
étnicas. uniformidade prostran<strong>do</strong> a diversidade e isolamento defensivo<br />
são re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong>s in<strong>com</strong>patíveis <strong>com</strong> os desígnios que nos levariam à unidade<br />
na diversidade. unidade que não pode ser apenas econômica, pois, a<br />
unidade econômica não realizará a <strong>com</strong>plexa unidade h<strong>um</strong>ana na diversidade,<br />
assim <strong>com</strong>o o isolamento defensivo das etnias e culturas diversas<br />
não produzirão a solidariedade e a responsabilidade, vitais ao século xxI.<br />
Como o <strong>pensamento</strong> <strong>do</strong> Norte não aceita e não entende a realidade<br />
e a sinergia <strong>do</strong> Sul, simplesmente os desconsidera. A lógica <strong>do</strong> Norte é a<br />
prosa que faz sobreviver <strong>com</strong> eficácia, ordem e coerência. "A prosa é o<br />
que fazemos por obrigação, por imposição, para ganhar nossa vida", diz<br />
<strong>Morin</strong> (2010). <strong>Para</strong> viver é preciso mais. é preciso poiesis. é preciso amor,<br />
poesia e sabe<strong>do</strong>ria, que são <strong>com</strong>plementares e faces <strong>do</strong> mesmo h<strong>um</strong>anismo.<br />
A sabe<strong>do</strong>ria, nesse senti<strong>do</strong>, precisa ser integrada sem ser imperativa,<br />
permitin<strong>do</strong> a "arte de viver" da hospitalidade, da <strong>com</strong>unicação,<br />
da alegria, <strong>do</strong>s afetos em sua manifestação lúdica e estética. Pois viver<br />
significa poder desfrutar <strong>do</strong> extraordinário entenden<strong>do</strong>, a importância<br />
da realização em si e por si.