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Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi

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12<br />

galáxia periférica. Devemos problematizar o real: onde está a "verdadeira"<br />

realidade? Nas partículas e nos átomos? Nos objetos de nossa percepção?<br />

Na nossa mente? O que significa a realidade hoje em dia?<br />

Devemos reproblematizar nossa relação <strong>com</strong> a natureza, que temos<br />

considera<strong>do</strong> <strong>com</strong>o feita de objetos a serem manipula<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>mestica<strong>do</strong>s<br />

ou destruí<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> somos inseparavelmente e vitalmente liga<strong>do</strong>s a ela.<br />

Devemos reproblematizar nossas crenças e cre<strong>do</strong>s, a <strong>com</strong>eçar pela nossa<br />

crença n<strong>um</strong> progresso irreversível da h<strong>um</strong>anidade.<br />

Precisamos, enfim, problematizar o próprio instr<strong>um</strong>ento da problematização<br />

que é a razão. Devemos <strong>com</strong>eçar a entender que a razão não é<br />

única, monolítica, simples. Existe <strong>um</strong>a racionalidade aberta que reconhece<br />

os limites de sua capacidade de apreensão e que não se pode senão reconhecer<br />

o mistério <strong>do</strong> universo.<br />

Existe a racionalidade teórica, que elabora sistemas de ideias. Existe<br />

a racionalidade crítica, que ataca as crenças infundadas. Existe a racionalidade<br />

autocrítica, que examina racionalmente sua própria cultura e<br />

sua própria pessoa. Existe a razão fechada, incapaz de acolher os arg<strong>um</strong>entos<br />

e os fatos que a contradizem. Existe a racionalidade quente, estimulada<br />

por <strong>um</strong>a paixão. E existe a racionalidade glacial <strong>do</strong> cálculo. Existe<br />

<strong>um</strong>a racionalidade degenerada, que é a racionalização, fundada n<strong>um</strong>a<br />

lógica implacável e limitada. Existe a racionalidade instr<strong>um</strong>ental, que<br />

está a serviço <strong>do</strong>s delírios e crueldades h<strong>um</strong>anas. Temos, evidentemente,<br />

que regenerar o que a virtude da racionalidade contém: a capacidade<br />

teórica, a capacidade crítica, a denúncia <strong>do</strong>s <strong>do</strong>gmas, a resistência ao<br />

anátema e, sobretu<strong>do</strong>, também a capacidade autocrítica, que ainda é<br />

muito subdesenvolvida.<br />

Precisamos misturar essas heranças culturais mediterrâneas <strong>com</strong> as<br />

heranças culturais africanas e <strong>sul</strong>-americanas. Por mais diferentes que sejam,<br />

todas elas <strong>com</strong>portam mo<strong>do</strong>s míticos ou religiosos de integração no<br />

cosmo e na natureza, <strong>do</strong>s quais devemos extrair a verdade profunda e<br />

ligá-la à nossa nova consciência ecológica, que reconhece nossa integração<br />

na biosfera, algo que o devir da mundialização continua a degradar,<br />

impulsiona<strong>do</strong> pelo norte. Existe a herança das tradições de solidariedade,<br />

que implica integrar e não destruir. Existem múltiplos conhecimentos, saberes<br />

sobre o mun<strong>do</strong> mineral, vegetal e animal que temos que incorporar.<br />

Existem artes de viver muito diversas e ricas, inclusive nas pequenas sociedades<br />

indígenas da América <strong>do</strong> Sul e da áfrica.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, ao reunir e conjugar todas essas heranças culturais, <strong>um</strong> <strong>pensamento</strong><br />

<strong>do</strong> Sul é capaz de realizar <strong>um</strong>a nova e grande problematização.

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