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Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi

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os vence<strong>do</strong>res, mas a história empilha os cadáveres <strong>do</strong>s nossos, <strong>do</strong>s<br />

venci<strong>do</strong>s. quem somos nós, os <strong>do</strong> Sul, mas que se vêem pelos olhos <strong>do</strong><br />

Norte? hoje, parece que tanta potência está re<strong>sul</strong>tan<strong>do</strong> em problemas,<br />

<strong>com</strong> os quais se torna difícil reconhecermo-nos nesse homem, e nossos<br />

caminhos parecem por vezes sem direção.<br />

<strong>Morin</strong>, de certa forma, nos convida a subir aos Alpes <strong>com</strong> Leonar<strong>do</strong>,<br />

trazen<strong>do</strong> alg<strong>um</strong>as coisas que nos permitam ver além <strong>do</strong>s fósseis "lança<strong>do</strong>s<br />

por Noé". E o que seria subir aos Alpes? quiçá visl<strong>um</strong>brar o mun<strong>do</strong><br />

de cima, <strong>do</strong> Norte, ou juntar a luz <strong>do</strong> Sul <strong>com</strong> a <strong>do</strong> Norte? Fico <strong>com</strong> a<br />

segunda opção, tentan<strong>do</strong> manchar as fronteiras. Mas, <strong>com</strong>o concretizar<br />

tempo e espaço sem contrastes? Como falar de ecologia se abraçamos<br />

árvores que ficam lá longe, enquanto o sistema de esgoto não existe<br />

para to<strong>do</strong>s, e quem dirá <strong>um</strong>a educação para to<strong>do</strong>s os homens?<br />

Presente em to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil, a instituição Serviço Social<br />

<strong>do</strong> Comércio (SESC), na qual trabalho, poderia contar ações que ilustram<br />

o <strong>pensamento</strong> de outro Sul, o Brasil, apesar de essa instituição ser<br />

"Norte" enquanto <strong>pensamento</strong> e ação em muitos lugares no país (ah!<br />

esse Norte que nos persegue <strong>com</strong>o se, não tentan<strong>do</strong> sê-lo, só nos restasse<br />

ser Sul). Mas foi no Pará (região Norte <strong>do</strong> Brasil, Sul <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ocidental)<br />

que conheci <strong>um</strong> bombeiro militar, Anderson, que vive na cidade<br />

de Inhangapi (Pará). Esse homem participava de <strong>um</strong>a semana de estu<strong>do</strong>s<br />

pedagógicos <strong>do</strong> SESC, junto <strong>com</strong> professores de Educação Infantil,<br />

Ensino Fundamental, Educação de Jovens e Adultos, enfim, atividades<br />

desenvolvidas por aquela instituição. Ele faz parte de <strong>um</strong> projeto chama<strong>do</strong><br />

Criança Cidadã, <strong>um</strong>a parceria entre a prefeitura local e o SESC,<br />

na tentativa de recolocar crianças em situação de risco, forman<strong>do</strong>-as<br />

guardas ambientais mirins, cuja ação é mais ecológica: "Nossa sorte é<br />

que temos a floresta e o rio", ele diz, lembran<strong>do</strong> que to<strong>do</strong>s na cidade<br />

vivem nessa fronteira. E o bombeiro me conta, <strong>com</strong> aquele jeito manso<br />

e sábio, que eles vão para a floresta <strong>com</strong> os meninos, acampam, removem<br />

obstáculos (árvores grandes caídas), trabalham juntos e contam<br />

histórias ao re<strong>do</strong>r de fogueiras. E os outros meninos da cidade, que não<br />

fazem parte <strong>do</strong> projeto, ao passarem por ele, dizem <strong>com</strong> intimidade:<br />

"Ei, professor Anderson!". "que coisa mais Sul", talvez dirá <strong>Morin</strong>, buscan<strong>do</strong><br />

esse homem por aqui mais h<strong>um</strong>ano. Mas, eu penso, "que coisa<br />

mais bacana é trabalhar junto durante o dia e ouvir histórias à noite.<br />

Eis que a narrativa não morreu, Benjamin!". Ainda podemos ser homens<br />

que <strong>com</strong>partilham histórias, sonhos, desejos e me<strong>do</strong>s. E vivermos <strong>um</strong>a<br />

experiência coletiva, que faz de <strong>um</strong> bombeiro militar <strong>um</strong> professor de<br />

meninos que ainda não são seus alunos.

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