Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi
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na ásia (Spivak, Chaterjee, Chakrabarty etc.) contribuem para provar<br />
que as duas regiões <strong>do</strong> conhecimento e <strong>do</strong> poder das modernidades<br />
planetárias conhecem ontologias diversas, mas articuladas por traduções<br />
e tradutores, por meio das várias fronteiras históricas, políticas,<br />
simbólicas e epistemológicas, inter e transculturais. Nesse senti<strong>do</strong>, é<br />
necessário esclarecer que Norte e Sul não são somente pontos geográficos,<br />
administrativos, jurídicos e políticos, mas também, lugares de<br />
produção <strong>do</strong> conhecimento e de imaginários sociais e culturais diversos<br />
que se movem em paralelo. Suas cartografias de poder e de saber<br />
são redimensionadas desde as tensões e conflitos que nascem nas fronteiras<br />
<strong>com</strong>partilhadas <strong>do</strong> imaginário eurocêntrico <strong>com</strong> os imaginários<br />
próprios da Asia, da Africa e da América Latina.<br />
A valorização <strong>do</strong>s espaços de conhecimento transnacionais que envolvem<br />
os <strong>do</strong>is campos imaginários, ou melhor, os <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s das fronteiras<br />
<strong>do</strong> imaginário da mundialização, aqueles situa<strong>do</strong>s desde dentro e<br />
desde fora, desloca a relação tradicional espaço-tempo que inspirou a<br />
cartografia da colonização e <strong>do</strong>s territórios <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s nacionais. Essa<br />
antiga cartografia da colonização foi produzida por <strong>um</strong> saber coloniza<strong>do</strong>r<br />
organiza<strong>do</strong> a partir das forças da burguesia e <strong>do</strong> cristianismo e<br />
que valorizou a ideologia <strong>do</strong> progresso, da mercantilização e da expropriação.<br />
Com a crítica "descolonial" produzida desde as exterioridades<br />
esse marco tradicional é interroga<strong>do</strong>, o que provoca o nascimento de<br />
outro marco espacial-temporal que se impõe sem eliminar o antigo.<br />
Consequentemente, são cria<strong>do</strong>s novos territórios transnacionais de organização<br />
das experiências da vida cotidiana e novas modalidades de<br />
ação coletiva e da política.<br />
A superação dessas fronteiras nacionais modernas está contribuin<strong>do</strong><br />
para mudar as noções de espaço e tempo, permitin<strong>do</strong> integrar novos<br />
horizontes cognitivos e emocionais na produção das experiências<br />
individuais e coletivas, de gênero, de etnias, de sexualidade, entre outras.<br />
Assim, é interessante observar que, a partir <strong>do</strong> olhar europeu, ser<br />
homem e branco implica enorme diferença na constituição das hierarquias<br />
de respeitabilidade a nível mundial. Mas, hoje, ser negro, mulher<br />
ou Aimara deixa de ser símbolo de arcaísmo ou inferioridade cultural<br />
para significar o valor das distinções, da revalorização <strong>do</strong> diferente, o<br />
que é fundamental para a expansão de <strong>um</strong> novo h<strong>um</strong>anismo que, <strong>com</strong>o<br />
sugere <strong>Morin</strong>, se afirme pela consciência <strong>do</strong> pertencimento a <strong>um</strong>a mesma<br />
<strong>com</strong>unidade de destino. Ou seja, as manifestações de exterioridades<br />
mudam as representações <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> desde fora e desde dentro.