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Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi

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isso, seria fundamental entender que o <strong>com</strong>bate à pobreza não se efetiva a<br />

partir de medidas assistencialistas e de curto prazo, mas que implica também<br />

<strong>um</strong>a reforma <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de vida das sociedades contemporâneas, basea<strong>do</strong><br />

na produção permanente de desejos que não podem ser satisfeitos e na<br />

substituição da noção de ser h<strong>um</strong>ano pelo senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> "ter h<strong>um</strong>ano". As sociedades<br />

contemporâneas tornaram-se reféns de si mesmas, ao acreditar na<br />

arrogância <strong>do</strong> h<strong>um</strong>anismo e na ilusão de que os abismos entre ricos e pobres<br />

não teriam consequências.<br />

c) A reforma <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de vida: não se pode mais imaginar <strong>um</strong>a sociedade<br />

planetária cujos padrões de vida e cons<strong>um</strong>o não são capazes de admitir os limites<br />

<strong>do</strong> próprio planeta. O excesso <strong>do</strong> cons<strong>um</strong>o e as escolhas individuais de<br />

alguns re<strong>sul</strong>tam, obrigatoriamente, na escassez e na deterioração <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s<br />

de existir de outros. é possível tecnologicamente gerar e consolidar padrões<br />

mais sustentáveis e solidários de vida, em harmonia <strong>com</strong> os limites <strong>do</strong> próprio<br />

planeta e <strong>com</strong> as exigências de vida digna para a sociedade. Esse é <strong>um</strong><br />

pressuposto central de <strong>um</strong>a nova civilização.<br />

d) A revisão <strong>do</strong>s padrões de governança global: em <strong>um</strong> mun<strong>do</strong> globaliza<strong>do</strong><br />

e conecta<strong>do</strong> em que to<strong>do</strong>s influenciam to<strong>do</strong>s, em tempo real, e novas lideranças<br />

e valores se impõem em contraste às hegemonias historicamente<br />

consolidadas no Norte, não se admite mais a insistência desse mo<strong>do</strong> de<br />

governabilidade centra<strong>do</strong> nos mesmos poderes, <strong>com</strong>o se o mun<strong>do</strong> permanecesse<br />

o mesmo e novas configurações globais fossem inexistentes. é<br />

fundamental que novas formas de governança global sejam inventadas e<br />

construídas, <strong>com</strong> base na perspectiva de <strong>com</strong>unidade de destino. Como é<br />

fundamental o resgate e a valorização das bases culturais, cosmologias e<br />

ancestralidades que delineiam as identidades múltiplas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> globaliza<strong>do</strong>,<br />

não apenas <strong>com</strong>o forma de resistência e afirmação, mas <strong>com</strong>o <strong>um</strong>a<br />

via possível para o resgate da própria existência h<strong>um</strong>ana e a geração de<br />

<strong>um</strong> conhecimento centra<strong>do</strong> não apenas na racionalidade científica linear,<br />

mas em <strong>um</strong>a <strong>com</strong>preensão integrada e integral <strong>do</strong> ser h<strong>um</strong>ano no universo.<br />

A ressignificação da natureza <strong>com</strong>o valor intrínseco, essencial ao equilíbrio<br />

planetário, ao bem-estar da sociedade h<strong>um</strong>ana e ao resgate de seus<br />

valores essenciais, desqualifica<strong>do</strong>s pela ditadura da racionalidade científica,<br />

frequentemente des<strong>um</strong>anizante. é fundamental também a busca por<br />

propostas de desenvolvimento que privilegiem a economia solidária, a valorização<br />

da proximidade, a agregação de valor aos mo<strong>do</strong>s de vida locais<br />

e às formas de produção sustentáveis, baseadas em energia limpa, nos<br />

princípios de ecoeficiência e na geração de produtos e serviços capazes<br />

de gerar <strong>um</strong>a nova forma de funcionamento da sociedade e não apenas a<br />

mercantilização da natureza para atender a voracidade <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.<br />

Enfim, <strong>com</strong>o discute <strong>Edgar</strong> <strong>Morin</strong>, é necessária a integração da prosa<br />

e da poesia, da razão e da emoção, em <strong>um</strong> mun<strong>do</strong> em processo permanente<br />

de criação e recriação e, portanto, em metamorfose.<br />

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