Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi
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dicionais, antes marginalizadas em toda a América Latina. E isso se traduz<br />
também em poder. As primeiras mulheres são eleitas democraticamente<br />
presidentes em países que, historicamente, se construíram <strong>com</strong> base em<br />
valores masculinos.<br />
A academia, gradativamente, passa a internalizar o seu papel social e a<br />
valorizar os saberes tradicionais na geração de conhecimento. Rompe-se<br />
também, progressivamente, o mito da disciplinaridade incrustada <strong>com</strong>o<br />
afirmação de poder e, nas fraturas <strong>do</strong> sistema, a inovação tecnológica é<br />
construída <strong>com</strong> base na interdisciplinaridade e na ousadia <strong>do</strong> <strong>pensamento</strong><br />
<strong>com</strong>plexo. E, de maneira inédita, avalia-se o desempenho acadêmico <strong>com</strong><br />
base em critérios de contribuição social e solidariedade.<br />
Na gestão pública, inicia-se o percurso ainda tími<strong>do</strong> da transversalidade<br />
na ação governamental e os pactos sociais passam a orientar o processo<br />
de decisão política, em <strong>um</strong> confronto corajoso e democrático, <strong>com</strong><br />
inúmeros conflitos de interesse, progressivamente explicita<strong>do</strong>s e apoia<strong>do</strong>s<br />
por <strong>um</strong>a mídia que se afirma na construção de informação qualificada.<br />
E, na perspectiva de desenvolvimento <strong>do</strong>s países <strong>do</strong> Sul, há o resgate na<br />
crença <strong>do</strong> elo perdi<strong>do</strong> pela modernidade, entre a natureza h<strong>um</strong>ana e a h<strong>um</strong>anidade<br />
naturalizada. Resgata-se a percepção da noção de Terra-pátria,<br />
na perspectiva de <strong>com</strong>unidade de destino.<br />
Evidentemente que não se pode romancear a realidade <strong>do</strong> Sul, submetida<br />
à memória de regimes ditatoriais des<strong>um</strong>anos, "eficiências questionáveis<br />
e atrasos" pelos parâmetros <strong>do</strong> Norte, contextos corrompi<strong>do</strong>s e nem sempre<br />
politicamente sãos, e passivos sociais ainda ilimita<strong>do</strong>s. Mas não é mais possível<br />
duvidar que é nesse cenário pulsante de crises permanentes e incertezas<br />
que poderão emergir reflexões para <strong>um</strong>a nova política de civilização.<br />
QUAIS AS QUESTÕES PRIORITÁRIAS A SEREM TRATADAS PELO OLHAR<br />
DO SUL NA DIREÇÃO DE UMA POLÍTICA DE CIVILIZAÇÃO?<br />
a) A reforma da Educação: não se pode mais insistir em <strong>um</strong>a visão <strong>com</strong>partimentada<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> nem imaginar <strong>um</strong> processo educacional apenas<br />
centra<strong>do</strong> em <strong>um</strong> <strong>com</strong>promisso de qualidade técnica e operacional, desvincula<strong>do</strong><br />
de <strong>um</strong>a perspectiva crítica e de <strong>um</strong>a discussão ética profunda. A<br />
proposta <strong>do</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>com</strong>plexo e a educação para a cidadania global<br />
e planetária constituem pressupostos fundamentais a ser incorpora<strong>do</strong>s.<br />
Mas o processo educativo precisa também avançar em <strong>um</strong>a perspectiva<br />
crítica, baseada na reflexão filosófica e na formação dirigida à solidariedade<br />
e à cidadania planetária.<br />
b) O <strong>com</strong>bate permanente à pobreza e às desigualdades sociais: <strong>um</strong>a das<br />
metas <strong>do</strong> milênio propostas pela ONu, o <strong>com</strong>bate à pobreza, associa<strong>do</strong> ao<br />
<strong>com</strong>promisso de vida digna para as populações h<strong>um</strong>anas, deveria se constituir<br />
em proposta prioritária para essa nova política de civilização. Mas, para