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BIBLIOTECA E CIDADANIA ESCOLA E SAMBA: SILÊNCIO ... - Sesc

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Sob a perspectiva dos recursos, o esforço de redistribuição requerido<br />

para avançar na cobertura do déficit social não parece excessivo.<br />

Estima-se, por exemplo, que se “um terço da renda nacional fosse<br />

perfeitamente distribuída, seria possível garantir a todas as famílias a<br />

satisfação das necessidades básicas. Com 3% do PIB seria possível eliminar<br />

a pobreza” (IPEA, 2009, 14). Uma vez que esse relativamente<br />

pequeno esforço não tem sido feito, não há como evitar a conclusão<br />

de que a aversão à desigualdade e à pobreza entre os brasileiros (especialmente<br />

aqueles a quem tocaria contribuir financeiramente, mas<br />

não exclusivamente estes) é muito baixa, certamente inferior à observada<br />

na esmagadora maioria dos demais países do mundo. Como lidar<br />

com essa constatação?<br />

Preferências por redistribuição não são preferências naturais. Elas, em<br />

boa medida, brotam de uma cultura pública preexistente, em que valores<br />

e normas são até certo ponto compartilhados. Os próprios sistemas<br />

de bem-estar social concorrem para a formação dessas preferências.<br />

Quando observamos a história da montagem dos sistemas de bemestar<br />

social mundo afora, verificamos que sua construção e expansão<br />

se deram aos saltos, em geral respondendo a crises ou projetos de desenvolvimento,<br />

sendo seguidas por longos períodos de maturação e de<br />

fermentação de consensos apoiando essas construções institucionais.<br />

Os sistemas alemão (formação do Estado Nacional), inglês (Beveridge<br />

Report, durante a Segunda Guerra), sueco (Compromisso Histórico<br />

diante da depressão) e americano (New Deal) testemunham esses processos<br />

seminais (PIERSON, 1990).<br />

Ou seja, a montagem dos sistemas não se caracterizou por evolução<br />

gradativa. Na origem dos saltos estão coalizões de classes e de partidos<br />

políticos, mobilizadas por questões nacionais, e foram essas coalizões<br />

que não apenas permitiram a construção dos sistemas hoje existentes,<br />

como também definiram o caráter mais ou menos redistributivo<br />

destes. Uma vez instituídos, esses sistemas se tornaram poderosos mecanismos<br />

de constituição de interesses e de reprodução de normas<br />

distributivas. Em decorrência, disparam um bem documentado processo<br />

de inércia institucional, que acaba por converter esforços de<br />

reforma, às vezes radicais no discurso, em ajustes à margem apenas.<br />

Isso ocorreu, por exemplo, na Inglaterra de Thatcher, que não chegou<br />

a experimentar retração significativa do sistema de bem-estar ape-<br />

SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.4 nº13 | p. 78-103 | mAio > AgoSto 2010<br />

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