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BIBLIOTECA E CIDADANIA ESCOLA E SAMBA: SILÊNCIO ... - Sesc

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elecer uma relação com uma cultura de referência, ainda que não<br />

tivesse clareza de que tipo de relação estava estabelecendo. Essa falta<br />

de clareza somada às dificuldades de organização de eventos daquela<br />

envergadura e aos problemas no relacionamento com uma parte da<br />

comunidade, representada pela Associação de Moradores, levaram à<br />

não realização dos “desfiles ecológicos” a partir de 2003.<br />

Da maneira como foi realizada, como uma bela, criativa e interessante<br />

ilustração da forma de trabalhar com projeto, pode ser também<br />

interpretada como uma forma de a escola lidar com a cultura popular.<br />

Segundo García Canclini (1997), é o caso de trabalhar apenas com os<br />

seus objetos, suas coisas, deixando de lado os agentes sociais e os processos,<br />

fazendo uma reificação da cultura do samba. Não se percebe<br />

a importância da instituição Escola de Samba, das rodas de samba,<br />

para a cidade e para o bairro, assim como os saberes ali produzidos.<br />

Esta contradição é fruto da força que tem a cultura escolar/cultura da<br />

escola, que resiste aos elementos a ela não pertencentes.<br />

Uma professora de alfabetização, por exemplo, falando da questão do<br />

meio ambiente, tão discutida na escola, comenta que “o nosso maior carro-<br />

-chefe para explicar isso é o desfile ecológico. Há uma participação incrível<br />

de pais. Têm pais que faltam ao trabalho. Pais que eu digo, assim, responsáveis:<br />

pai, mãe, avó, tia, responsável pelo aluno”. Esta dedicada professora,<br />

contudo, ao trabalhar conteúdos em sala de aula, em que alguns<br />

exercícios estavam ligados ao som da letra “m”, do tipo “complete a frase”,<br />

ou ditado com palavras como “bombom”, “tampa”, “bombeiro” etc., em<br />

nenhum momento usou palavras como samba ou bamba, que são comuns<br />

no universo do bairro de Oswaldo Cruz. Tal como acontece nas aulas de<br />

Educação Física, de novo, os Princípios Educativos e Núcleos Conceituais<br />

da orientação curricular estão desconectados da prática pedagógica.<br />

Foram poucas manifestações espontâneas observadas nos estudantes<br />

sobre sua cultura musical na escola. Como não havia recreio, eram<br />

nos momentos de espera para as aulas de educação física que algumas<br />

vezes vi garotas negras fazendo passos de funk. Ou um garoto<br />

afro-brasileiro fazendo batucada na carteira, imitando a batida de um<br />

repenique, enquanto a professora estava na secretaria. Apesar disso,<br />

nas entrevistas, foi possível identificar o gosto pela música.<br />

Os estudantes têm suas preferências, que se caracterizam por serem<br />

plurais, como mostram alguns depoimentos: “Gosto de hip-hop, não<br />

68 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.4 nº13 | p. 46-77 | mAio > AgoSto 2010

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