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BIBLIOTECA E CIDADANIA ESCOLA E SAMBA: SILÊNCIO ... - Sesc

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em vez das várias soluções encaradas para resolvê-lo. Estas são em<br />

vão, não incorretas nem erradas. O problema mesmo provém de uma<br />

imagem filosófica da qual é muito difícil desfazer-se. Pode-se seguir<br />

aqui uma sugestão irônica importante de Wittgenstein nas Investigações<br />

filosóficas:<br />

“O pensamento, este estranho ser” — mas não nos parece estranho,<br />

quando pensamos. O pensamento não nos parece misterioso enquanto<br />

pensamos, mas apenas quando dizemos retrospectivamente:<br />

“Como foi possível?” Como foi possível que o pensamento tratasse ele<br />

mesmo desse objeto? Parece-nos como se tivéssemos, com ele, captado<br />

a realidade (WITTGENSTEIN, 1995, § 428).<br />

O alvo de Wittgenstein aqui não é tal ou tal solução ao problema<br />

da intencionalidade (como o pensamento pode captar a realidade?),<br />

mas o ambiante de mistério que cerca o pensamento na sua relação<br />

com o mundo tão logo paremos de exercer a atividade de pensar. Ele<br />

sugere ainda que o problema transcendental (“Como foi possível?”) é<br />

o resultado de um juízo retroativo que transforma o truísmo: pensar é<br />

pensar alguma coisa a respeito do mundo (ibid., § 95), em um problema<br />

metafísico de relação entre duas entidades misteriosas.<br />

Meu objetivo agora é mostrar que essa maneira de pôr o problema<br />

em termos tipicamente transcendentais é fundamentalmente errada<br />

e enganosa, ao focalizar sobre um problema particular que exemplifica<br />

bem isso. O problema é saber se o pensamento pode entrar em<br />

contato com o mundo de maneira mais direta que a que consiste em<br />

especificar o objeto do pensamento de maneira descritiva, ou seja,<br />

por meio de uma condição a ser satisfeita de maneira única pelo objeto<br />

referido 24 . Esse problema deu origem a debates muito vigorosos<br />

na área da filosofia contemporânea da linguagem e da mente sobre<br />

a contraposição entre dois tipos de pensamentos — no sentido semântico<br />

“fregeano” de proposições (Sätze) expressas por frases usadas<br />

no modo declarativo — e, consequentemente, dois tipos de estados<br />

24 Tipicamente, essa condição é expressa na linguagem por meio de uma descrição<br />

definida do tipo “o tal e tal” em posição de sujeito gramatical numa<br />

sentença de tipo predicativo (S é P).<br />

142 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.4 nº13 | p. 128-151 | mAio > AgoSto 2010

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